Título: SAYAD SERÁ CANDIDATO DO BRASIL AO BID
Autor: Gilberto Scofield Jr.
Fonte: O Globo, 08/04/2005, Economia, p. 23

Países disputam presidência do banco. Iglesias sairá do cargo em 2006

OKINAWA (Japão). Um dos anúncios mais aguardados da reunião anual de governadores do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) ¿ que começa hoje em Okinawa, no Japão ¿ é a despedida oficial do espanhol naturalizado uruguaio Enrique Iglesias do cargo de presidente do banco, uma mudança prevista para 2006. Ao contrário das presidências do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (Bird), ocupadas por indicação da União Européia e dos EUA, respectivamente, o comando do BID sempre foi de países em desenvolvimento.

Iglesias, no cargo de presidente do banco há 17 anos, ainda não anunciou formalmente a sua saída, mas os países latinos já ensaiam uma dança de bastidores em torno de nomes prováveis. Brasil, Colômbia, México e Peru já têm candidatos ao posto. No caso brasileiro, o candidato é o ex-ministro do Planejamento e atual vice-presidente de Planejamento e Administração do BID, o economista João Sayad.

Sayad não fala sobre o assunto, mas o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, que chegou ontem ao Japão e representa o Brasil entre os governadores reunidos, admite que o país indicará Sayad.

¿ Caso Iglesias confirme sua saída, o nome de João Sayad será sugerido pelo Brasil, mas ainda é cedo para discutir isso ¿ diz Bernardo.

Quando Iglesias assumiu o BID, em 1988, a instituição emprestava cerca de US$1,5 bilhão a projetos de infra-estrutura. Hoje, sua carteira oscila em torno de US$6 bilhões e o banco se prepara para dar uma guinada radical em sua filosofia de financiamento.

Os governadores dos 47 países-membros do BID vão votar, no Japão, se adotam ou não o chamado Novo Marco de Empréstimos. Pelas novas regras, o banco deixará de financiar projetos isolados de desenvolvimento e passará a apoiar políticas públicas dos países-membros. É uma mudança gigante que, para muitos, encontrará resistências dos países desenvolvidos na hora da liberação do dinheiro.

Explique-se: desde que foi criado, em 1959, o BID vinha apoiando projetos ¿ especialmente de infra-estrutura ¿ dos países latinos. Até agora, acreditava-se que emprestar dinheiro para a construção de, por exemplo, uma hidrelétrica era mais fácil de controlar do que um programa governamental mais amplo.

País rico quer apoio do FMI para BID liberar crédito

No segundo semestre de 2004, contudo, o banco decidiu inverter essa lógica. O Brasil foi o primeiro país contemplado pela nova filosofia, mais exatamente o Programa Bolsa Família do governo Lula, que recebeu cerca de US$1 bilhão do banco em 2004.

¿ Um dos pontos de atrito é que os países ricos querem condicionar a concessão de empréstimos a uma carta do FMI. Ora, o BID sempre foi conhecido pela sua ousadia em financiar projetos para os quais o FMI nunca emprestaria ¿ diz um executivo do BID.

Além disso, o BID busca nesta reunião fórmulas para ser mais ativo. O orçamento anual, que chegou a US$6,3 bilhões, em 2001, caiu para US$3,6 bilhões em 2003 e voltou para US$6 bilhões ano passado. Só o brasileiro BNDES tem um orçamento cerca de três vezes maior.