Título: CHACINA DA BAIXADA: POLÍCIA VAI ANALISAR MATERIAL PARA DESCOBRIR SE FOI UTILIZADO NO ASSASSINATO DE 30 PESSOAS
Autor: Dimmi Amora
Fonte: O Globo, 09/04/2005, Rio, p. 13

PF apreende moto sem placa na casa de PM

Na residência de cabo, que teve a prisão decretada, também foram recolhidos um revólver e uma pistola

Policiais federais apreenderam ontem pela manhã uma motocicleta sem placa e duas armas ¿ uma pistola e um revólver ¿ na Rua Aida, em Queimados, na casa do cabo Marcos Siqueira Costa, do 20º BPM (Mesquita), que teve a prisão preventiva decretada na noite de anteontem juntamente com o cabo Gilmar da Silva Simão, do 3º BPM (Méier). O material será analisado porque a polícia quer saber se as armas foram usadas nos assassinatos. Também será apurado se a moto foi utilizada pelos criminosos para recuperar cápsulas, numa tentativa de eliminar provas que está sendo investigada pela PM. Uma segunda moto foi apreendida em outra operação na região.

Já no fim da tarde de ontem, a Polícia Federal cumpriu mandado de busca e apreensão na casa do cabo Gilmar, na Rua Hortência, próximo à residência de Siqueira em Queimados. Até o fim da noite, não havia sido divulgado se houve apreensões na casa de Gilmar. No fim da tarde, os PMs Carlos Jorge Carvalho, Fabiano Gonçalves Simões e Gilmar prestaram depoimento na sede da Polícia Federal em Nova Iguaçu. Eles chegaram à delegacia por volta de 16h30m, dentro de um carro da PM, usando capuz.

Além de Gilmar e Siqueira, estão com prisão preventiva decretada pela Justiça os soldados Carlos Jorge Carvalho e Júlio César de Paula, do 20ºBPM, Fabiano Gonçalves Lopes, José Augusto Moreira Felipe, Maurício Jorge da Matta Montezano e Ivonei de Souza, do 24º BPM (Queimados). Outros dois policiais militares, que não tiveram os nomes divulgados, estão cumprindo prisão administrativa por determinação do comando da PM. Dois que cumpriram prisão administrativa foram soltos por falta de provas.

Inquérito da PF deve terminar semana que vem

A tragédia que vitimou 30 pessoas na semana passada na Baixada Fluminense nasceu numa conversa de bar. Testemunhas ouvidas por policiais federais confirmaram que o grupo de policiais militares que praticou a chacina se reuniu para beber num bar no Centro de Nova Iguaçu, antes de cometer os crimes. Ao saírem do bar, eles mataram as primeiras vítimas em frente a um motel, tradicional ponto de prostituição de travestis, e terminaram o massacre em Queimados, quase 15 quilômetros depois.

Segundo os policiais, todos os oito PMs presos até agora, mesmo trabalhando em batalhões diferentes, eram amigos. Para os policiais federais, há outros envolvidos no crime: pessoas que tentaram ajudar os assassinos a eliminar provas e a encontrar possíveis testemunhas da chacina, para tentar intimidá-las. A Polícia Federal, que esperava concluir o inquérito esta semana, deverá terminá-lo na próxima, porque foram encontrados novos indícios da participação de policiais nos crimes. Além disso, ainda estão sendo realizadas operações de busca na região.