Título: INVESTIDOR REAGE MAL E JURO FUTURO DISPARA
Autor: Patrícia Eloy e Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 09/04/2005, Economia, p. 27

Mercado teme que BC adie corte da Selic. Dólar tem 11ª queda seguida, para R$2,586

A resistência demonstrada pela inflação de março medida pelo IPCA e a deterioração nas expectativas de inflação fizeram disparar ontem as projeções de juros futuros na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). Os investidores temem que, diante dessa resistência inflacionária, o Banco Central (BC) possa adiar o início do ciclo de corte de juros. Nos contratos mais negociados, com vencimento em janeiro de 2006, as taxas projetadas subiram de 19,34% para 19,53% ao ano. Vencimentos de curto prazo também reagiram: nos contratos para julho deste ano, os juros saltaram de 19,44% para 19,54% ao ano.

Segundo analistas, alguns investidores esperavam que o núcleo da inflação pelo IPCA (exclui as maiores variações de preços) viesse mais em linha com o do IPCA-15. O primeiro ficou em 0,62% e o segundo, em 0,55%. Além de um movimento técnico de ajuste das apostas ao núcleo mais alto, houve pessimismo por parte de alguns aplicadores, que prevêem que os cortes de juros estão agora ainda mais distantes.

O economista Élson Teles, da Fides Asset, acredita no entanto que o BC já encerrou o ciclo de aperto na política monetária. Ele lembra que a inflação tem subido devido a preços administrados e a choques de oferta (altas não relacionadas a uma maior demanda dos consumidores), ou seja, fatores que não são afetados por mudanças nas taxas de juros:

¿ E, daqui para frente, o câmbio vai funcionar como âncora para a inflação. As commodities em alta lá fora terão um impacto menor aqui porque o dólar está baixo.

Para Marco Antônio Franklin, da Plenus Gestão de Recursos, o BC poderá, em vez de subir os juros este mês, deixar a taxa no elevado patamar atual (19,25% ao ano) por um período mais longo.

¿ Está difícil cumprir a meta (de inflação), mas as elevações passadas de juros já estão surtindo efeito, especialmente no nível de atividade econômica. Provavelmente, só haverá espaço para cortar os juros mais para o fim do ano.

Moeda americana atingiu máxima do dia após IPCA

Alexandre Póvoa, diretor da Modal Asset, avalia que houve exagero na reação dos investidores. Para ele, o IPCA não foi ruim o suficiente para justificar tamanho estresse no mercado de juros. Para Póvoa, após o índice de produção industrial fraco, os investidores esperavam que o IPCA pudesse sinalizar o fim do processo de aperto monetário iniciado em setembro do ano passado. A taxa praticamente estável detonou o pessimismo dos investidores.

O dólar também reagiu ao IPCA. A moeda americana, que iniciou os negócios em ligeira alta, atingiu a máxima do dia (R$2,603, uma alta de 0,27%) após a divulgação do indicador. Mas acabou encerrando em queda de 0,38%, cotada a R$2,586, menor nível desde 21 de fevereiro (R$2,578). Foi a décima primeira queda consecutiva, seguindo a tendência de desvalorização do dólar em todo o mundo. O risco-Brasil cedeu 0,45%, para 445 pontos, e a Bolsa caiu 1,61%.