Título: PAGAMENTOS AO BID SUPERAM FINANCIAMENTOS
Autor: Gilberto Scofield Jr.
Fonte: O Globo, 09/04/2005, Economia, p. 29

Brasil sacou US$481 milhões em novos empréstimos do banco e desembolsou US$2,4 bi em juros em 2004

OKINAWA (Japão). O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) se prepara para aprovar amanhã seu relatório anual de 2004, mas trecho do documento ao qual O GLOBO teve acesso mostra que o Brasil fechou o ano passado pagando ao banco juros e amortizações de empréstimos em valor quase US$1,9 bilhão acima do que recebeu de novos financiamentos. O Brasil tomou US$481 milhões de empréstimos aprovados e pagou US$2,4 bilhões com juros. É o segundo ano consecutivo que isso acontece e tudo indica que 2005 seguirá a tendência. O Brasil já pagou ao BID, até fevereiro, US$96 milhões a mais do que recebeu.

Com o Banco Mundial (Bird), cujo relatório saiu esta semana, ocorreu a mesma coisa. O Brasil sacou US$1,4 bilhão de empréstimos aprovados e pagou US$1,8 bilhão de juros. Ou seja, pagou US$336 milhões a mais do que recebeu em 2004. Somando os valores dos dois bancos multilaterais oficiais, o Brasil gastou com juros e amortizações US$2,3 bilhões a mais do que recebeu de empréstimos de BID e Bird.

Nos demais países da América Latina ocorreu o mesmo, de acordo com os dados oficiais do BID. Foram aprovados em 2004 US$6,020 bilhões para a região, mas os países só sacaram US$4,232 bilhões. Ainda assim, pagaram US$5,502 bilhões ¿ mais US$1,270 bilhão.

Foi por isso que o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, comemorou ontem a aprovação, pelos governadores do BID, do novo marco de financiamento da entidade, que passará a emprestar para programas de governo, além dos financiamentos a projetos isolados de infra-estrutura.

Captações poderão ser feitas em moeda local

Os países também aprovaram uma nova forma de captação de recursos, que será feita em moedas locais dos países-membros. E a dívida poderá ser paga nas moedas locais, em vez de dólares ou euros.

¿ O BID ganhou modernas ferramentas de apoio aos governos da região, pois o banco poderá financiar programas mais ambiciosos de redução da pobreza. E ao mesmo tempo, com o novo sistema de captação, permitirá que municípios ou estados proibidos de se endividar em dólar façam investimentos. Essa relação de pagamento de juros maior que recebimento de recursos deve ser invertida ¿ disse o ministro.

A exigência de uma carta do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a aprovação dos projetos no novo marco de empréstimo não foi evitada. Os países latinos conseguiram convencer EUA e Europa a não exigirem automaticamente a carta no texto da regulamentação do financiamento. Mas concordaram em deixar a decisão a cargo dos técnicos que analisarem os projetos. Ainda assim, o clima era de comemoração:

¿ Agora, o próprio BID vai procurar os países com projetos de reformas que permitam acelerar o desenvolvimento ¿ afirmou Rogério Studart, diretor da secretaria Brasil e Suriname do BID.