Título: AMB FARÁ CAMPANHA PARA BANIR O `JURIDIQUÊS¿ DE TRIBUNAIS BRASILEIROS
Autor: Carolina Brígido
Fonte: O Globo, 10/04/2005, O País, p. 13

Comitê promoverá reeducação lingüística de integrantes do Judiciário

BRASÍLIA. Embora seja oficialmente a língua portuguesa, o que se fala e escreve nos tribunais brasileiros nem sempre é compreensível para a maioria dos brasileiros. Alguns exemplos beiram o humor: ¿O réu vive de espórtula, tanto é que é notória sua cacosmia¿, escreveu um advogado à 1ª Vara da comarca de Rosário do Sul (RS). Queria dizer que seu cliente vivia às custas de donativos, em ambiente miserável. Textos rebuscados como este estão com os dias contados. Pelo menos no que depender da vontade da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), que designou um comitê para promover a reeducação lingüística dos advogados, juízes e membros do Ministério Público.

A intenção é banir das decisões e dos julgamentos do Judiciário o costume de se escrever na ordem indireta, com palavras em desuso. Os principais alvos da campanha serão os estudantes de direito. A partir do próximo semestre, a AMB promoverá palestras em faculdades para convencer os alunos de que a linguagem formal é importante ¿ desde que não ultrapasse os limites do entendimento possível à maioria da sociedade.

¿ O Poder Judiciário precisa tornar compreensível sua função diante da sociedade, para que as pessoas possam entender o que está acontecendo ¿ diz o juiz do trabalho Roberto Siegmann, coordenador da campanha da AMB.

O juiz acha fundamental que os termos em latim continuem na forma original. O ministro Carlos Ayres Britto, do Supremo Tribunal Federal (STF), discorda. O ministro baniu de seu vocabulário termos como caput, usado para designar o enunciado do artigo de uma legislação. Ayres Britto prefere ¿cabeça¿.