Título: ALENCAR, SEM MEDO DE SER FELIZ
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 11/04/2005, O País, p. 3

Presidente em exercício critica rumos da economia e diz que país precisa `crescer e enriquecer¿

No dia em que o Campo Majoritário do PT, principal tendência do partido, aprovou documento endossando a política econômica do governo Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente em exercício, José Alencar, voltou a bater forte na condução da economia, criticou o patamar da taxa de juros e afirmou que faltam recursos para educação, saúde e segurança. O presidente interino recorreu ao slogan da campanha presidencial de Lula em 2002 para criticar os rumos da economia:

¿ O Brasil precisa perder o medo de ser feliz. De crescer, crescer e enriquecer. Todos os serviços públicos, no Brasil inteiro, precisam de mais recursos para melhorar sua qualidade. O país cresceu. Tudo tem carência porque falta recurso. E por que falta recurso? Porque o crescimento é pequeno.

As declarações foram dadas por Alencar antes do casamento da filha de seu sócio na empresa Coteminas, Luiz de Paula Ferreira. Na contramão do chefe da Casa Civil, José Dirceu, que comemorou sábado, no Rio, a expansão econômica, Alencar disse que o governo precisa ousar. Para ele, o Brasil é um país de subconsumo porque a população não tem dinheiro.

¿ Para que essa renda cresça é preciso que a economia cresça a taxas mais elevadas. Do contrário, o país, que é dos mais ricos do mundo em recursos naturais e humanos, fica se arrastando. Daí a razão pela qual sou contra uma política monetária de combate ao consumo num país de subconsumo. O Brasil precisa ousar.

Para ele, as altas taxas de juros ¿ seu alvo preferencial ¿ não ajudam a combater a alta dos preços administrados, como energia, telefonia e gasolina, que dependem de outros fatores. Nas críticas, sobrou também para o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles:

¿ O BC precisa buscar outros objetivos, como aproveitar o potencial de crescimento da economia brasileira e partir para a geração máxima do emprego. Temos que sair disso e crescer. A verdade é essa ¿ disse.

`É óbvio ululante que apóio a reeleição¿

Apesar das críticas à condução da economia, Alencar defendeu com veemência a reeleição de Lula:

¿ É óbvio ululante que apóio a reeleição do Lula. Quatro anos é muito pouco. O cidadão não tem condições de realizar o trabalho que gostaria de realizar. O Brasil inteiro deseja reeleger o Lula.

Perguntado se vai de novo compor a chapa com o petista, Alencar respondeu que não existe candidato a candidato a vice. Ele disse que não recebeu convite nesse sentido:

¿- Para responder se aceito, primeiro tenho que ser convidado.

Alencar afirmou que não está magoado por não ter sido sondado até agora e disse que vai continuar colaborando com o país onde estiver:

¿ Não tem nada de mágoa, mas tenho, obviamente, participação no governo Lula. Sou parte deste governo. Mas sou vice graças à eleição dele. O meu desejo é prestar um bom serviço ao país, onde quer que esteja, como sempre fiz.

O presidente em exercício voltou a fazer a defesa de Lula ao comentar a disposição do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), devolver ao Palácio do Planalto algumas medidas provisórias que não sejam consideradas urgentes nem relevantes.

¿ Essa questão das medidas provisórias é antiga. Todos os presidentes do Legislativo reclamam das MPs, mas o Lula nunca quis exacerbar. Ele tem prometido reduzir, mas o presidente também não pode abrir mão desse instrumento para determinadas questões que são de urgência e de importância relevante.

Alencar ainda rasgou elogios a Lula, sem abrir mão de suas críticas à política econômica.

¿ É difícil encontrar um presidente da República tão consciente, tão dedicado e que tenha uma autoridade moral inigualável. Agora, essa questão de juros eu brigo porque acho que está errado.