Título: FAMÍLIAS SÃO AS MAIORES PRODUTORAS
Autor: Letícia Lins
Fonte: O Globo, 10/04/2005, Economia, p. 28

Fabricação local estimula economia de outras cidades do agreste do estado

TORITAMA (PE). Em Toritama, as três mil unidades produtoras são, em sua maioria, microempresas familiares. Elas são formadas por novos empreendedores que não teriam outra opção de renda a não ser os programas sociais do governo, como ocorre na maioria dos pequenos municípios nordestinos, lembra o presidente da Associação Comercial e Industrial de Toritama, Edilson Tavares.

Apesar dos problemas sociais, as famílias de Toritama têm acesso a bens com os quais nem sonhavam antes, como eletrodomésticos. Conseguem pagar seus seguros de saúde e comprar remédios, diz Tavares. Seu empenho tem sido para tornar sustentável não só a economia de Toritama como a do próprio pólo de confecções que se espalha pelo agreste pernambucano, uma zona de transição entre a região canavieira e o sertão, mas com paisagem semi-árida.

Até gotas das caldeiras foram aproveitadas

De olho no mercado externo, Tavares sabe que sem garantia verde os produtos de Toritama terão dificuldade para emplacar lá fora. Por esse motivo, sua empresa se tornou a primeira da cidade a reciclar a água usada no tratamento do jeans. Dono da Mamute, a maior lavanderia da cidade, ele descartava por mês 9 milhões de litros de água no meio ambiente. Depois da orientação de uma instituição alemã, a situação mudou. Hoje joga apenas 4,5 milhões de litros de água fora, assim mesmo tratada. O resto é aproveitado. Ele sabe a importância de reciclar a água.

¿ Aqui em Toritama não tem água. Já furei um poço de 62 metros de profundidade e não deu nada. Aqui não tem água nem no cano nem no lençol freático e minha lavanderia é abastecida diariamente por dez caminhões-pipa ¿ diz ele, lembrando que cada peça de jeans consome, pelo menos, 70 litros de água. Em outros locais, essa relação, mesmo com muita economia, chega a 120 litros.

¿ Hoje reaproveito 50% da água que uso ¿ orgulha-se Tavares, lembrando que Toritama é tão seca que a última estiagem durou exatamente um ano, um mês e treze dias.

No auge da seca, ele chegou a usar as gotinhas acumuladas pelo calor das caldeiras em operação, puxando-as por uma canaleta para a cisterna da lavanderia.

¿ A cada hora, aproveitávamos 42 litros da água condensada pelo vapor das caldeiras ¿ conta ele, orgulhoso também de ter deixado de jogar por mês no rio Capibaribe uma tonelada de pedras provenientes da estonagem.

Junto com Sebrae, governo do estado e entidades estrangeiras, a associação comercial e industrial tenta agora motivar os empresários locais a tratar resíduos sólidos e construir esgotos. (L.L)