Título: CHINA EMPURROU A AMÉRICA LATINA
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 10/04/2005, Economia, p. 29

País comprou insumos, mas também foi forte concorrente na região

WASHINGTON. Uma parte da vigorosa recuperação da América Latina em 2004 foi devido à entrada em cena da China, como uma voraz consumidora de matéria-prima da região. Mas, ao mesmo tempo, esse personagem também provocou calafrios ¿ em especial no México ¿ devido ao seu enorme poder de competição no maior mercado do mundo (o dos Estados Unidos) com os manufaturados latino-americanos.

¿ Para uns, a China é um veneno. Para outros, é vitamina ¿ resumiu o presidente do BID, Enrique Iglesias.

Segundo ele, os países da região não têm outra escolha a não ser melhorar a sua capacidade de competir nos mercados internacionais:

¿ A China é uma enorme oportunidade para todos nós, devido à sua capacidade de compra. Mas ela também é um grande desafio, e temos de estar preparados para enfrentá-lo ¿ disse Iglesias.

Ele lembrou, por exemplo, que já está começando a haver uma retomada da produção das ¿maquiladoras¿ (empresas que embalam ou montam produtos feitos no exterior) no México, depois de um período em que aquele país perdeu fábricas para a China.

Iglesias diz que mexicanos reagiram à competição

O motivo para a recuperação, disse o executivo do BID, é que as autoridades mexicanas passaram a dar mais atenção e peso aos setores em que a mão-de-obra local leva vantagem sobre a chinesa. E, em especial, à proximidade com os EUA.

¿ Tenho insistido com os governos de toda a região que é necessário investir melhor na formação de mão-de-obra e em tecnologia, porque hoje a competitividade já não se baseia tanto apenas em mão-de-obra barata. É preciso ter qualidade ¿ disse Iglesias.

Há ainda um outro aspecto a considerar, segundo o ¿Informe Anual 2004¿, do BID. Ele alerta que os países latino-americanos devem estar preparados para uma eventual desaceleração da economia chinesa. Há dúvidas sobre a sustentação do atual padrão de crescimento daquele país.

Se ele for reduzido, isso teria efeitos imediatos sobre o comércio mundial e sobre os preços dos produtos básicos, ¿que afetariam com força especial a América Latina¿, diz o documento.

¿ Moral da história: temos de estar bem preparados para as eventualidades. Ou seja: temos de depender mais de nós mesmos ¿ disse Iglesias ao GLOBO. (J.M.P.)