Título: SALDO POSITIVO
Autor:
Fonte: O Globo, 12/04/2005, Opinião, p. 6

Oque parecia ser mais uma oportunidade para petistas exorcizarem culpas ideológicas por meio de ataques à política econômica, mesmo que sutis, terminou servindo para um positivo exercício de bom senso.

Chegou a existir alguma expectativa pessimista diante do encontro no fim de semana, no Rio, de líderes do Campo Majoritário, corrente hegemônica dentro do partido.

Declarações dúbias de uma ou de outra estrela petista levantaram a suspeita de que a reunião poderia servir para mais uma barragem de ¿fogo amigo¿, tão peculiar aos petistas, contra o trabalho do ministro da Fazenda, Antonio Palocci.

E assim, mais uma vez, militantes petistas estariam investindo contra os interesses do governo do qual são a principal base partidária. Além disso, havia o risco da ressurreição do temor latente de que a conversão do governo a uma política de estabilização econômica não passa de tática para, um dia, ser tentada a aplicação do modelo do PT do passado.

Mas não foi o que aconteceu ¿ para o bem do PT, do governo e do país. No capítulo sobre a economia do documento de 44 laudas levado ao debate no Rio, é sublinhada de maneira clara a defesa da linha da Carta ao Povo Brasileiro, em que, na campanha eleitoral de 2002, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva se comprometeu a não executar qualquer programa heterodoxo e aventureiro na economia.

O ponto central do documento, porém, é o reconhecimento de que não há contradição entre a necessidade de equilíbrio fiscal, e de controle dos gastos, e o desenvolvimento e a superação dos gargalos sociais. Tudo isso é óbvio, mas não conta com unanimidade entre as esquerdas, nem mesmo dentro do PT.

Não faltou, também, referência à necessidade de um Estado ¿planejador e indutor da economia¿, num aceno a certas correntes do PT também próximas a Lula.

O balanço do encontro é, portanto, positivo. Mas, enquanto essa nova visão petista não for absorvida formalmente pelo programa do partido, sempre haverá margem para dúvidas, especulações e tentações de defesa de heterodoxias em função do calendário eleitoral.