Título: IMAGEM DETURPADA
Autor: JOÃO LUIZ MAUAD
Fonte: O Globo, 11/04/2005, Opinião, p. 7

Amaioria dos brasileiros não gosta de empresários. Esse sentimento é resultado de muitos anos de propaganda anticapitalista, apoiada no sofisma de que os benefícios do progresso e do desenvolvimento revertem exclusivamente aos donos do capital, enquanto os ¿explorados¿ afundam na penúria e na miséria.

Muito da imagem infame que os persegue tem origem no fato de que, na maior parte do tempo, os empresários não estão preocupados com o interesse social, mas exclusivamente com as suas próprias urgências. No entanto, esse ¿egoísmo¿ não impediu que eles tivessem contribuído de forma decisiva, ainda que involuntariamente, para a impressionante melhoria das condições de vida da Humanidade, havida a partir da Revolução Industrial.

Já no século XVIII, Adam Smith captara a essência desse modelo aparentemente incoerente e, em sua memorável obra ¿A riqueza das nações¿, pronunciou: ¿Geralmente, ele (o empreendedor) não tenciona promover o interesse público nem sabe até que ponto o está promovendo. Orientando sua atividade de tal maneira que sua produção possa ser de maior valor, visa apenas a seu próprio ganho, sendo guiado, como que por uma mão invisível, a promover um objetivo que não fazia parte de suas intenções. Ao perseguir seus próprios interesses, o indivíduo muitas vezes promove o interesse da sociedade muito mais eficazmente do que quando tenciona realmente promovê-lo.¿

De fato, foi graças ao espírito empreendedor, à ousadia e à coragem de alguns desses homens que hoje conseguimos produzir, de forma muito mais eficiente, econômica e abundante, produtos e serviços que antes eram privilégio de uns poucos. É inegável que o desenvolvimento da indústria do vestuário, a mecanização da produção e a melhoria do processamento e distribuição de alimentos têm, por sua própria natureza, beneficiado um público cada vez mais amplo. Além disso, saneamento, transportes, moradia, saúde, comunicações, entretenimento, enfim toda uma gama de benefícios até pouco tempo impensáveis mesmo para os mais abastados, são hoje uma realidade acessível a muitos. Tudo em função do desenvolvimento acelerado desencadeado pelo advento do capitalismo.

Nos dias atuais, inclusive em países do Terceiro Mundo como o nosso, boa parte da população de baixa renda possui televisão, aparelho de som, telefone celular, dorme em colchões de espuma, veste jeans, usa tênis coloridos, se diverte nos cinemas, shoppings e lanchonetes. Com certeza ignoram as dificuldades e os altos investimentos envolvidos nos processos de pesquisa, geração de novas tecnologias, produção em escala e distribuição de todos aqueles produtos e serviços. Essa desinformação acaba tornando-os suscetíveis ao falatório rançoso dos arautos do atraso.

Entretanto, o que esses indefectíveis detratores desconhecem (ou omitem) é o fato de que não há qualquer bem de consumo criado no âmbito de economias coletivistas que tenha trazido algum benefício permanente para a Humanidade. Além de máquinas de guerra, armas de destruição em massa e um horroroso automóvel Lada, nada de relevante elas produziram. Para piorar as coisas, todos os experimentos de planificação econômica já realizados, em que os governos tudo controlam, o processo de mercado inexiste e o lucro é proibido, redundaram sempre na escassez, no desabastecimento e na distribuição eqüitativa da pobreza.

Por tudo isso, como bem enfatizou a escritora russa Ayn Rand, o empresário capitalista, ao contrário da péssima imagem que criaram dele, é um verdadeiro redentor, que no curto espaço de dois séculos aumentou em duas vezes e meia a expectativa de vida do homem, liberou-o da escravidão de suas próprias necessidades físicas, do trabalho manual estafante de 16 horas diárias ou mais; libertou-o da escassez absoluta de qualquer produto, das pestes (e de um bom número de doenças), da desesperança e do horror sob o qual viveu a maioria dos seres humanos durante toda a era pré-capitalista e, desgraçadamente, ainda vivem alguns, nos países comunistas.