Título: PRESSÃO NO CUSTO DE VIDA: MERCADO ESPERA TAMBÉM CONTÁGIO DO IPCA DE 2006
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 12/04/2005, Economia, p. 17

Projeção de inflação para este ano supera os 6%, longe da meta do BC

Analistas já prevêem Selic alta por mais tempo e dólar abaixo de R$2,50

BRASÍLIA e RIO. Os analistas do mercado financeiro revisaram pela sexta vez consecutiva a estimativa para a inflação neste ano, que pela primeira vez supera a marca dos 6% e fica ainda mais distante do objetivo do Banco Central (BC), que é de 5,1%. Segundo a pesquisa ¿Focus¿ do BC, com cerca de cem instituições financeiras, a expectativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, referência para o sistema de metas de inflação do governo) subiu para 6,04% em 2005 e caminha para o teto da meta, que é de 7%.

Até a semana passada, a estimativa para a inflação neste ano era de 5,88%. Embora tenham mantido a projeção para 2006 em 5%, os analistas já apostam que as recentes elevações de preços devem começar a contaminar as estimativas futuras de inflação ¿ mesmo após sete altas consecutivas da taxa básica de juros (Selic).

¿ Já era esperada uma revisão na expectativa de inflação neste ano, mas não numa variação tão grande. Uma das principais conclusões da pesquisa é que deverá haver um certo contágio desse aumento em 2006 ¿ disse o analista Guilherme Maia, da Consultoria Tendências.

Algumas instituições esperam alta da Selic para 19,50%

No relatório do BC, as cinco instituições que mais acertam as projeções (as chamadas Top 5) já estimam que a instituição elevará a Selic em 0,25 ponto percentual na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na semana que vem. Na média do mercado, porém, as apostas são de manutenção da taxa em 19,25% ao ano este mês. Também ficou inalterada a estimativa de juros para o fim do ano em 17,50% anuais. Isso sinaliza que a Selic deverá permanecer elevada por um longo período, segundo os economistas, adiando o início do ciclo de cortes de juros.

Fernando de Holanda Barbosa, professor da FGV, explica que, se o BC mantiver a Selic em 19,25% ao ano ¿ com juros reais na casa dos 13% ¿ os investidores continuarão reduzindo aplicações em ativos como câmbio e bolsa e migrando para aplicações em juros (títulos públicos), consideradas de baixo risco.

Ontem, após 11 quedas consecutivas, o dólar encerrou os negócios estável, cotado a R$2,586. Para os analistas, porém, a tendência ainda é de queda e a moeda pode chegar a R$2,50 se o BC não voltar a comprar dólares no mercado. Apesar da trajetória de valorização do real, as exportações têm mostrado vigor e as forte vendas no mercado internacional significam mais dólares na economia, o que faz a cotação cair para patamares cada vez mais baixos.

¿ Juros altos beneficiam aplicações em títulos do governo e hoje o cenário não é diferente. E a ausência do BC no mercado só potencializa a queda do dólar ¿ avalia José Roberto Carreira, gerente de câmbio da corretora Novação.

Para ele, este cenário levará o dólar rumo aos R$2,50. Esta também é a opinião de Francisco Gimenez Netto, gerente de câmbio da corretora NGO:

¿ Com as projeções de inflação perigosamente próximas do teto da meta, dificilmente o BC atuará no câmbio, o que poderia gerar uma contaminação de preços. Tudo conspira por um dólar mais baixo, na casa dos R$2,50 ¿ diz.

A pesquisa do BC mostrou que as projeções para a taxa de câmbio no fim deste mês caíram de R$2,70 para R$2,68, devendo fechar 2005 em R$2,80. Já o saldo da balança comercial subiu de US$29,84 bilhões para US$31 bilhões. Em contrapartida, o mercado reduziu ligeiramente a estimativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2005, de 3,69% para 3,67%.

Gimenez lembra que mesmo as tesourarias dos bancos apostam num dólar baixo. As posições vendidas (a descoberto) dos bancos no mercado à vista estavam em US$3,076 bilhões em março, próximas do nível de fevereiro (US$3,4 bilhões).

Ontem, o risco-Brasil recuou 0,67%, para 442 pontos centesimais. O Global 40 subiu 0,40%, para 113,15% do valor de face, e a Bolsa de Valores de São Paulo ficou estável.