Título: CORRIDA PARA CANONIZAR JOÃO PAULO II
Autor: Deborah Berlinck e Monica Yanakiew
Fonte: O Globo, 12/04/2005, O Mundo, p. 23

Cardeais propõem abaixo-assinado e processo poderia ser concluído em outubro

Um grupo de cardeais propôs um abaixo-assinado para acelerar a canonização de João Paulo II, informou ontem o vaticanista Luigi Accatoli, do jornal italiano ¿Corriere della Sera¿. Mas a decisão de torná-lo santo só poderá ser tomada pelo novo Papa, que será eleito por 115 cardeais no conclave que terá início segunda-feira.

Se as regras do Vaticano fossem respeitadas ao pé da letra, este assunto só começaria a ser tratado cinco anos após a morte do Papa. Mas segundo o secretário da Congregação das Causas dos Santos, o arcebispo Edward Nowak, João Paulo II poderia ser proclamado santo em outubro, durante o sínodo dos bispos em Roma. Seu túmulo estará aberto a visitas a partir de amanhã.

Aclamação popular pode ajudar

Os debates sobre a canonização de João Paulo II começaram no dia de seu funeral, sexta-feira. Durante a cerimônia, milhares de fiéis na Praça de São Pedro interromperam a homilia do cardeal Joseph Ratzinger 13 vezes para aplaudir João Paulo II e gritar ¿Santo já¿. Nowak lembrou ao ¿Corriere della Sera¿ que antigamente a aclamação popular era meio caminho para a canonização. Com o tempo e o desenvolvimento científico ¿ que permite verificar melhor a ocorrência de milagres ¿ as regras mudaram. Mas o Papa tem o direito de derrubá-las.

¿Não é a Igreja que canoniza. Ontem e hoje é o povo que reconhece e atesta a santidade de uma pessoa. A primeira iniciativa é sempre popular. É aquela que chamamos de fama de santidade¿, explicou Nowak. Segundo ele, é realista pensar que os cardeais foram sensibilizados pela aclamação popular. E como um desses cardeais provavelmente será o novo papa, é provável que faça algo para aprovar a canonização de seu antecessor.

De fato, segundo Accatoli, mal enterraram o Papa cardeais começaram a falar sobre sua canonização. O decano do Colégio dos Cardeais, Ratzinger, teria pedido ao cardeal português José Saraiva Martins que explicasse as regras. Martins foi responsável pela Congregação da Causa dos Santos até a morte de João Paulo II.

Relatório de milagres de Wojtyla

As regras atuais determinam que primeiramente é preciso reunir um dossiê (cartas ou testemunhos) relatando milagres de João Paulo II. Nowak admitiu que várias destas cartas foram separadas e jornais italianos divulgaram casos de pessoas que se dizem curadas pelo Papa. Mas naquela reunião de cardeais, depois do funeral, ficou decidido que o mais prudente será aguardar a posse do sucessor para tratar do assunto. A maioria não gostaria de pressionar o novo papa antes mesmo de elegê-lo. Isso, segundo Accatoli, não impediu, porém, a proposta de abaixo-assinado.

Um dos nomes mais associados à campanha de canonização de João Paulo II é seu ex-secretário particular, o arcebispo Stanislaw Dziwisz. Ao ¿La Stampa¿ ele disse que são tantos os casos de milagre atribuídos a Wojtyla que eles estão guardados num relatório especial. E citou um caso em que um americano judeu se recuperou de um câncer considerado incurável depois de receber a comunhão de João Paulo II, no fim dos anos 80 ¿ a comunhão é reservada aos católicos mas o Papa não sabia que o americano era judeu. Até agora, o santo canonizado mais rapidamente foi Madre Teresa de Calcutá: um ano e meio, por João Paulo II. Antes dela, era Josemaría Escrivá de Balaguer, fundador do Opus Dei, beatificado em 1992 e canonizado dez anos depois.