Título: OPOSIÇÃO DE TUCANO É REFRESCO
Autor: Elio Gaspari
Fonte: O Globo, 13/04/2005, Opinião, p. 7

Com a palavra o comissário José Genoino, explicando a diferença entre o PT e o PSDB:

¿Temos diferenças de visão programática de estado, sobre economia, sobre universalização das políticas públicas e sobre a questão internacional, sobre o papel do Brasil no mundo. Temos diferenças programáticas e estratégicas com o PSDB. Por outro lado, o PT tem de ter uma relação politizante e de alto nível com o PSDB, que se constitui no nosso principal adversário desde 1994. Quando falamos dentro de uma visão de direita e esquerda, é sempre a partir de um referencial, não de um modo pejorativo, de um ataque. O PT, nas suas diferenças com o PSDB, refuta radicalmente a tese pregada por FHC, de um partido hegemonista, exclusivista. Estamos à frente do Estado e reformando esse próprio Estado. Por isso, na proposta-tese da maioria do PT, estamos reafirmando o caráter republicano e democrático do PT, nas suas relações com a sociedade e com o poder público.¿

Ganha uma viagem a Cuba quem explicar o que Genoino quis dizer.

Felizmente, isso não tem importância. FFHH tem razão, o PSDB e o PT viraram vinho da mesma pipa. É uma constatação que dói na alma de alguns tucanos e petistas românticos mas ajuda todo mundo a pensar melhor.

O PT e o PSDB tornaram-se coisas parecidas (ou incompreensíveis, como no exemplo de Genoino) e mesmo assim há uma lacuna na formulação de FFHH.

Se o PT virou PSDB, o PSDB virou o quê?

Oposição é que não virou. O ex-presidente critica a inércia do comissariado mas, fora do poder, não se associou a qualquer proposta específica que pudesse interessar à choldra.

O governo petista atravessou sua primeira metade e não se vislumbra no PSDB o exercício daquela oposição programática que tanto cobrava aos petistas. Como fazia o PT, os tucanos esperam que o mar pegue fogo para comer peixe assado.

Em termos de políticas públicas, o PSDB notabiliza-se pela opção preferencial de seus senadores pela ekipekonômica. O ministro Antonio Palocci cura as feridas do fogo amigo com o champanhe inimigo. Fora daí, o que há é uma parolagem elitista associada a administrações demófobas.

Tome-se o exemplo de São Paulo. O PSDB derrotou Marta Suplicy, em cuja prefeitura instaurou-se o bilhete único nos ônibus municpais. O freguês paga uma tarifa e viaja duas horas, em quantos percursos quiser. Fazia muito tempo que não se tomava uma medida desse tamanho em benefício do andar de baixo.

Os tucanos foram noutra direção. O governador Geraldo Alckmin, candidato a presidente da República, tornou-se um dos poucos governantes da História a impor à patuléia, simultaneamente, um aumento de tarifas e um confisco de desconto.

Em janeiro passado aumentou as passagens dos trens e do metrô de São Paulo de R$1,90 para R$2,10. Remarcou as tarifas de ônibus num percentual um pouco superior, mas apenas recuperou o que perdera com a inflação. Na mesma passada de chapéu, tungou um desconto que equivalia a 5% do custo de uma viagem de ida e volta. (O cidadão pagava R$3,60 por dois bilhetes que sairiam por R$3,80.) Esse benefício era usufruído por cerca da metade dos usuários. Noutra facada, levou metade do desconto do pacote de dez viagens.

Por mais que o PT esteja parecido com o PSDB, confisco desse tipo ele ainda não fez.

ELIO GASPARI é jornalista.