Título: ARGENTINA SE OPÕE A PLANOS DO BRASIL NA ONU
Autor: Janaína Figueiredo
Fonte: O Globo, 13/04/2005, O País, p. 8
Vice-chanceler diz em Nova York que novos membros permanentes do Conselho de Segurança gerariam instabilidade regional
BUENOS AIRES. Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva busca reforçar sua aliança com países africanos que defendem, como o Brasil, a ampliação do número de membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, o governo do presidente argentino, Néstor Kirchner, manifestou publicamente sua oposição à estratégia brasileira. O encarregado de comunicar a posição da Argentina foi o vice-ministro das Relações Exteriores do país, Jorge Taiana.
Em encontro de países que participam da iniciativa denominada ¿Unindo para o Consenso¿, anteontem, em Nova York, o vice-chanceler argentino disse que ¿uma nova categoria de membro permanente introduziria um novo fator de instabilidade dentro de cada região, alterando de forma desnecessária os equilíbrios regionais ao estabelecer hegemonias que hoje não existem¿. Embora Taiana não tenha mencionado o Brasil, sua declaração foi um claro recado para o governo Lula, que lidera uma campanha a favor da incorporação de novos membros permanentes ao Conselho de Segurança da ONU.
Argentina prefere número maior de vagas rotativas
O Brasil defende o modelo A de reforma do conselho, que prevê a criação de seis novas vagas permanentes e três vagas rotativas a cada dois anos. Já o governo do presidente Néstor Kirchner prefere o modelo B, que não estabelece a criação de novas vagas permanentes mas sim oito vagas rotativas a cada quatro anos ¿ duas vagas por região ¿ e uma nova vaga rotativa a cada dois anos. Taiana criticou países que pregam modelos ¿em nome de interesses individuais¿ e afirmou que ¿a Argentina defende uma reforma que resulte no verdadeiro fortalecimento das Nações Unidas¿.
¿ A categoria de membro permanente incorporou em 1945 uma discriminação que todos tivemos de aceitar em nome da paz. Naquele momento, foi produto de um acordo geral. Não acreditamos que incorporar novos membros privilegiados corrigirá a discriminação ou melhorará a legitimidade do conselho ¿ argumentou o vice-chanceler argentino.
O Conselho de Segurança tem cinco membros permanentes: EUA, Rússia, China, França e Grã-Bretanha.
Diante de delegações de 120 países, Taiana ratificou uma posição que a Argentina vem sustentando há vários anos, em clara oposição ao Brasil. Em setembro, os países que integram a ONU se reunirão para discutir alternativas de reforma do Conselho de Segurança.