Título: JOVEM CONFESSA TER ENCOMENDADO MORTE DO PAI
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 13/04/2005, O País, p. 12

Daniele Vásquez diz que pai-de-santo foi o autor dos disparos; para a polícia do DF, motivo do crime foi dinheiro

BRASÍLIA. Daniele Almeida de Barcelos Vásquez, de 20 anos, foi indiciada ontem pela polícia do Distrito Federal como autora intelectual do assassinato de seu pai, José Eduardo Vásquez, morto no último domingo com dois tiros. Ela confessou em seu depoimento que encomendou a morte de Vásquez a um pai-de-santo de Brasília, durante sessões de umbanda. Ela acusou o pai-de-santo José Carlos de Oliveira de ter feito os disparos.

Os dois estão presos. Daniele foi detida em flagrante no apartamento onde morava com o namorado Alexandre de Deus. Oliveira foi preso porque já havia sido condenado por estelionato. Ele teria passado adiante um cheque roubado no valor de R$200.

As sessões de umbanda ocorriam sempre no apartamento de Daniele, em Taguatinga, cidade-satélite de Brasília. Segundo o delegado João Lóscio, a mãe da jovem, Cleusa Vásquez, que era separada do marido, participou de algumas dessas reuniões. Numa sessão no ano passado, as duas teriam pedido a uma entidade que baixou no pai-de-santo que Eduardo morresse durante uma cirurgia de hérnia a que foi submetido.

¿ Conversei com a entidade que me garantiu que iria matar meu pai ¿ disse Daniele a jornalistas.

¿Tinha mágoa de meu pai, que me expulsou de casa¿

Nas sessões, o pai-de-santo incorporava entidades como malandro e Exu Caveira.

¿ Tinha muita mágoa de meu pai, que me expulsou várias vezes de casa e nunca me dava dinheiro. Encomendei a morte dele, mas não fui eu quem executou. Foi o José Carlos ¿ disse Daniele, sem demonstrar emoção.

Em março, Vásquez prestou queixa contra a filha por roubo de um talão de cheques. Disse que pretendia deserdá-la.

Vásquez estava separado da mulher há dois anos e foi assassinado na casa dela, na cidade-satélite do Guará. Para a polícia, o crime foi motivado por dinheiro. Daniele sabia que o pai havia feito um seguro de vida no valor de R$300 mil e que tinha em sua conta de FGTS cerca de R$130 mil.

Uma testemunha do caso disse que Cleusa o procurou e ofereceu R$100 para que ele matasse o ex-marido dela. Submetida a acareação com a testemunha, Cleusa, que estava em casa na hora do crime, negou a acusação. Apesar de o assassino estar encapuzado, Cleusa disse que reconheceu o pai-de-santo pela voz.