Título: PROTESTOS CONTRA O JAPÃO SE AMPLIAM NA CHINA
Autor: Gilberto Scofield Jr
Fonte: O Globo, 11/04/2005, O Mundo, p. 20

Manifestantes atacam embaixada, consulado e lojas, furiosos com livros escolares japoneses sobre a Segunda Guerra

OKINAWA, Japão. Cerca de 20 mil chineses saíram às ruas em protesto contra o Japão no fim de semana nas cidades de Pequim, Guangzhou (Cantão) e Shenzhen, dizendo palavras de ordem, como ¿Abaixo o Japão¿ ou ¿Boicotem produtos japoneses¿, e atirando pedras e garrafas em embaixada, consulados e até em pequenos estabelecimentos comerciais japoneses. Os protestos foram considerados por analistas internacionais como os maiores desde que as duas nações restabeleceram relações diplomáticas, em 1972.

Ontem, o ministro das Relações Exteriores do Japão, Nobutaka Machimura, convocou o embaixador chinês em Tóquio, Wang Yi, e exigiu que a China peça desculpas formais pelo episódio. Wang respondeu que o governo chinês condenava os atos de vandalismo, mas não pediu desculpas, tornando o clima entre os dois países ainda mais tenso.

Livros são ameaça à paz regional, afirma jornal

A origem dos protestos na China ¿ sempre reprimidos violentamente quando o alvo das manifestações é o próprio governo, mas que desta vez só sofreram intervenção da polícia para impedir a depredação da embaixada japonesa ¿ foi a aprovação, na semana passada, pelo Ministério da Educação japonês, dos novos livros didáticos para o ensino intermediário nas escolas.

A China e a Coréia do Sul afirmam que os livros disfarçam as atrocidades cometidas pelo Japão durante a invasão de seus países na Segunda Guerra Mundial. São denúncias como a morte brutal e sumária de cerca de 350 mil pessoas, a deportação para o Japão dos prisioneiros de guerra para trabalhos forçados, além do uso de milhares de coreanas e chinesas como escravas sexuais de militares japoneses. Os livros também consideram como território japonês áreas ainda em disputa pelos três países.

¿O problema central dos livros é que eles desrespeitam a China, a Coréia do Sul e outros países vizinhos numa tentativa de provar a relativa superioridade do Japão e assim justificar a invasão e a exploração desses países. Esta tentativa de distorcer a História representa uma ameaça à paz regional. E é por isso que nos perguntamos se Tóquio merece um assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas¿, disse em editorial um dos maiores jornais coreanos, o ¿Korean Herald¿.

Ao contrário da Alemanha, que estreitou laços econômicos e culturais com seus vizinhos europeus após uma campanha que incluiu pedidos formais de desculpas e compensações, o Japão não apenas não consegue admitir exageros durante a guerra como políticos do país fazem regulares visitas ao túmulo de Yasukuni, onde estão enterrados desde soldados japoneses a criminosos de guerra. As visitas sempre provocam reações na China e na Coréia do Sul.