Título: RIO DE NOVO NA LANTERNA DA PRODUÇÃO INDUSTRIAL
Autor: Cássia Almeida e Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 13/04/2005, Economia, p. 25

Num ritmo menor, indústria cresceu em 11 das 14 regiões do país em fevereiro. Setor fluminense recuou 3,4%

RIO e SÃO PAULO. O Estado do Rio voltou a freqüentar em fevereiro a última posição no desempenho da produção industrial brasileira. A queda de 3,4% frente ao mesmo mês de 2004, divulgada ontem pelo IBGE, foi a maior entre as 14 regiões acompanhadas pelo instituto ¿ em 11 delas a indústria cresceu, embora num ritmo menor.

Com esse resultado, o Rio, que desde novembro não ocupava o último lugar, interrompe uma trajetória de nove taxas positivas. No acumulado deste ano (janeiro e fevereiro), o estado só elevou a produção em 0,8% ¿ o penúltimo pior resultado. E nos últimos 12 meses, avançou 2,8%, a menor expansão entre as regiões.

¿ Mais da metade da queda foi provocada por férias coletivas na indústria farmacêutica. A extrativa mineral (petróleo), um ramo que vinha puxando a produção do estado para baixo, ficou estável no mês (-0,1%) ¿ explicou Isabella Nunes Pereira, economista do IBGE, acrescentando que a produção de medicamentos caiu 44,4% em fevereiro.

A liderança ficou com o Amazonas, com alta de 21,8% no ritmo produtivo. A produção de eletroeletrônicos (46,5% maior), com ênfase para os celulares, foi a responsável pela expansão no estado. A seca no Sul afetou a produção industrial no Rio Grande do Sul, que apresenta a única queda no acumulado do ano: 1,6%. O recuo veio da fabricação menor de máquinas para colheita, com a quebra da safra de soja.

¿ A desaceleração verificada na produção nacional (de 5,9% em janeiro para 4,4% em fevereiro) manifestou-se de forma diferente entre as regiões. As mais voltadas para produção de bens de consumo duráveis (automóveis, eletrodomésticos e eletroeletrônicos) e não-duráveis (alimentos, bebidas, remédios e roupas) tiveram desempenho melhor, como Pernambuco, Amazonas e Minas Gerais, que aumentaram o ritmo produtivo ¿ afirmou Isabella, do IBGE.

Mesmo com quedas, CNI prevê expansão de até 5%

No Rio, a tendência para o ano é de ritmo menor, mas com a recuperação da produção de petróleo. Segundo Luciana de Sá, chefe da Assessoria de Pesquisas Econômicas da Firjan, as perspectivas para a indústria petrolífera são boas, com o início da operação de mais plataformas:

¿ O ramo deve voltar à normalidade este ano.

O comportamento da indústria farmacêutica não foi surpresa para a economista. Segunda ela, 70% das empresas desse ramo dão férias coletivas no início do ano.

Mas o rigor da política monetária fez estrago. Segundo análise do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), depois de sete meses consecutivos de alta dos juros, a indústria entrou numa rota de ¿generalizada desaceleração¿. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) também vê o início de um processo de redução de atividade, em parte ainda suavizado pelo vigor das exportações.

¿ A indústria acusa o efeito do ciclo de sete meses de aperto da política monetária, algo previsível sobre a atividade econômica ¿ disse o presidente da CNI, deputado Armando Monteiro Neto (PTB-PE), após participar de evento na Fiesp.

Os sinais dessa desaceleração são encontrados em todo o país. O Iedi frisa que apenas seis regiões ou estados tiveram fôlego em fevereiro para crescer acima da média nacional (4,4%), entre elas São Paulo (5,9%). O problema é que o resultado registrado pela indústria paulista foi o pior dos últimos três meses ¿ aumento de 11,8% em dezembro e de 8,5% em janeiro.

Mesmo com a alta de juros, o presidente da CNI manteve a projeção inicial de crescimento entre 4,5% e 5% da atividade da indústria de transformação este ano, graças ao avanço da exportações. Mas Monteiro diz que existe um limite para que os exportadores compensem a crescente valorização do real frente ao dólar.