Título: BIRD: RICOS TÊM QUE AJUDAR PAÍSES POBRES
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 13/04/2005, Economia, p. 27

Wolfensohn diz que credibilidade da comunidade desenvolvida está em jogo

WASHINGTON. Às vésperas de deixar a presidência do Banco Mundial (Bird), James Wolfensohn deu ontem um novo puxão de orelhas nos países ricos, ao apelar para que cumpram as promessas que fizeram três anos atrás numa reunião em Monterrey, no México. Na reunião, eles garantiram que ajudariam os países em desenvolvimento a vencer a pobreza.

O executivo, que sairá do cargo no próximo dia 1º de junho, disse que já é hora de os ricos perdoarem parte da dívida dos mais pobres, aumentarem o fluxo de ajuda financeira a todos e reduzirem as barreiras comerciais que impõem à importação de seus produtos.

¿ A credibilidade de toda a comunidade desenvolvida está em jogo, mais do que nunca ¿ disse ele, ao divulgar o ¿Informe de monitoração global: do consenso ao momento¿.

O documento, emitido ontem pelo Bird, será discutido entre hoje e domingo próximo, por ministros da Fazenda de todo o mundo, durante a reunião semestral conjunta do Bird e Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington.

Segundo a avaliação do Bird, será necessário duplicar o volume da atual ajuda ao desenvolvimento dos países mais pobres. Até aqui as promessas nesse sentido vêm sendo cumpridas pela metade. Wolfensohn voltou a advertir que não se trata de caridade ou responsabilidade social, mas também de uma questão de interesse próprio dos países ricos:

¿ Estão em jogo não apenas as perspectivas de centenas de milhões de pessoas escaparem da pobreza, da fome e das doenças, mas também as perspectivas de segurança e de paz a longo prazo, que estão intrinsecamente ligadas ao desenvolvimento.

Banco pede ação `ousada e urgente¿ para reduzir pobreza

Nesse novo informe o banco diz que ¿é necessária uma ação ousada e urgente¿ para reduzir a pobreza extrema e melhorar as perspectivas sociais e econômicas da população dos países em desenvolvimento. Segundo o Bird, o progresso nesse sentido tem sido ¿mais lento e mais desequilibrado¿ do que se podia supor, embora alguns países já tenham dado passos largos.

¿ Atrás dos números frios há gente de carne e osso e a falta de progresso tem consequências reais e trágicas. A cada semana morrem de doenças duzentas mil crianças com menos de cinco anos. Cada semana morrem dez mil mulheres ao dar à luz. Mais de cem milhões de crianças não vão à escola nos países em desenvolvimento ¿ alertou Zia Qureshi, o economista do Bird que coordenou a produção do informe.

Dois países foram citados como exemplares em métodos de redução da pobreza. O crescimento econômico da China entre 1981 e 2001 e a melhoria dos seus programas sociais fizeram com que a pobreza extrema baixasse de 64 para 17%. Ou seja: 400 milhões de pessoas saíram da miséria. No Vietnã, a redução foi de 51% em 1990 para 14% em 2002.