Título: TIROS AMEAÇAM JUIZ NA DIVISA COM O PARAGUAI
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 14/04/2005, O País, p. 10

Pistoleiro foge após tiroteio com soldados do Exército que fazem a proteção do magistrado, inimigo de traficantes

SÃO PAULO. O juiz federal Odilon de Oliveira, considerado o inimigo número um dos traficantes que atuam na fronteira entre Brasil e Paraguai, sofreu um ameaça à sua vida na terça-feira à noite, em Ponta Porã (MS). Um homem não identificado trocou tiros com soldados do Exército que fazem a segurança do juiz no hotel de trânsito das Forças Armadas na cidade, que fica na fronteira com o Paraguai. O hotel é desde agosto de 2004 o bunker do juiz, alvo de dezenas de ameaças de morte.

A Polícia Federal vai investigar a ação. O juiz acredita que o incidente faça parte de um processo de intimidação:

¿ Não vejo outro motivo. Não é a primeira vez que sou alvo de intimidações. Isso acontece com freqüência.

Juiz é autor de 15 pedidos de extradição de traficantes

O tiroteio ocorreu dois dias após O GLOBO ter publicado reportagem sobre a atuação de Oliveira no combate a traficantes brasileiros que se aliaram às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) para traficar cocaína pela fronteira seca entre o Brasil e o Paraguai. Oliveira é autor de 15 dos 30 pedidos de extradição de traficantes brasileiros presos no Paraguai.

¿ Se fosse um atentado, eles iriam mais bem preparados até por causa do aparato de segurança que protege o juiz. Não descarto a possibilidade de o autor dos disparos ser alguém que estivesse vigiando o juiz ¿ disse o delegado Guilherme Guimarães Faria, chefe da PF em Ponta Porã.

O juiz, que atua há 22 anos na região da fronteira, vive desde 1998 sob escolta da PF. Os policiais o acompanham até nas corridas matinais. A superintendência da PF em Campo Grande possui um calhamaço com o histórico de ameaças a Oliveira. Mas, nos últimos dois anos, as intimidações se intensificaram. A cabeça do juiz valeria US$100 mil no mercado da pistolagem da fronteira.

Segundo relatório enviado pelo Exército à PF, soldados responsáveis pela segurança do juiz notaram a presença de um homem em terreno vizinho ao hotel, à 1h de terça-feira. Ao perceber que fora descoberto, o homem começou a atirar. Os soldados reagiram, mas o suspeito fugiu correndo. De acordo com a PF, será difícil identificar o autor dos disparos.

No Ceará, ameaça contra procurador da República

Já no Ceará, o procurador da República Oscar Costa Filho denunciou que policiais militares envolvidos com grupos de extermínio ameaçam assassiná-lo por R$30 mil. A denúncia é baseada em gravação feita por ele semana passada, durante uma conversa com Francisco Pereira Leite, dono de um terreno cuja compra está sendo investigada pelo Ministério Público.

Leite contou ter sido procurado por um oficial da PM, que lhe propôs "dar um jeito" no procurador e assegurar a desocupação do terreno ¿ invadido por cerca de 50 famílias. Se fosse necessário matar líderes comunitários que estão na área, o preço seria maior.

Leite acrescentou que o oficial foi procurá-lo em sua fábrica usando um carro da PM. Ele não quis dizer o nome do policial. Mas o procurador acredita que Leite estava lhe fazendo uma ameaça velada de morte ao revelar a suposta trama.