Título: FITAS DE CARLINHOS CACHOEIRA COM GRAVAÇÕES DE CONVERSAS INCRIMINAM OS DEPUTADOS
Autor: Carla Rocha e Maiá Menezes
Fonte: O Globo, 14/04/2005, Rio, p. 14

O escândalo da CPI da Loterj estourou quando o empresário do ramo lotérico Carlinhos Cachoeira apresentou fitas de conversas gravadas entre seus emissários e o deputado federal André Luiz, na época no PMDB, do qual foi expulso, e o deputado estadual Alessandro Calazans que, após as denúncias, também foi afastado do PV e está sem partido. Desde então tiveram início as investigações na Câmara de Deputados, em Brasília, e na Alerj, que podem levar à cassação dos dois parlamentares.

CPI DA LOTERJ: Em fevereiro do ano passado, o deputado estadual Alessandro Calazans, então do PV, apresentou pedido de abertura de CPI para investigar a Loterj na gestão do ex-subchefe de Assuntos Parlamentares do Palácio do Planalto Waldomiro Diniz. A medida foi tomada depois da divulgação de uma fita de vídeo em que Waldomiro aparece conversando com o empresário Carlos Cachoeira, com quem estaria negociando contribuições de campanha. A CPI foi aprovada um mês depois.

ANDRÉ LUIZ: No fim do ano passado, mais precisamente em novembro, quando o relatório final da CPI estava sendo concluído, o deputado federal André Luiz (então do PMDB), foi acusado, em reportagem da revista ¿Veja¿, de tentar extorquir R$4 milhões de Carlinhos Cachoeira, para protegê-lo na CPI da Loterj. Assessores de Cachoeira gravaram mais de cinco horas de conversas. Durante as negociações, de acordo com as denúncias da revista, André Luiz disse ter apoio de Calazans, que presidia a CPI. Num dos trechos das gravações, André Luiz dizia: ¿Nós formamos um grupo só, Sérgio Cabral, Picciani, eu, Calazans, Paulo Melo¿.

ANDORINHA: No mesmo mês, Cachoeira divulgou uma nova fita para provar que de fato havia o envolvimento de Calazans no suposto esquema de extorsão. A reportagem também foi publicada pela revista ¿Veja¿. Na gravação apresentada, Calazans conversava com um assessor do empresário, que tentava negociar a retirada do nome de Cachoeira do relatório final da CPI. No diálogo, Calazans teria usado a expressão ¿andorinha¿ para se referir a dinheiro. ¿Na verdade, a orientação foi para passar aquela andorinha. Isso sensibilizava, e a gente ia ver o que ia acontecer... Era parte do R$1,5 milhão¿, teria dito Calazans. O parlamentar negou que tenha usado a expressão ou negociado com um intermediário de Cachoeira. Segundo ele, seu interlocutor na gravação se apresentou como um funcionário do deputado federal Bispo Rodrigues (PL).

ALERJ É ENVOLVIDA Gravações inéditas às quais O GLOBO, também em novembro de 2004, mostraram uma conversa de dois emissários de Cachoeira com o deputado André Luiz, em que ele afirmava ter revelado ao presidente da Casa, Jorge Picciani, seu colega de partido, a existência da negociação para retirar o nome do empresário do relatório final da CPI que apurou denúncias de corrupção na empresa pública de loteria do estado. ¿Eu falei... Ô Picciani, eu tenho interesse de resolver essa situação do Cachoeira, não tem nada pra você fazer?¿, disse André Luiz na fita, em que relatava uma suposta conversa com Picciani.