Título: Denúncia derruba álibi de policiais indiciados
Autor: Tais Mendes
Fonte: O Globo, 14/04/2005, Rio, p. 15

Testemunha diz que dois cabos e dois soldados ficaram em bar em Nova Iguaçu até meia hora antes da matança

O depoimento de uma testemunha derrubou o álibi de pelo menos quatro PMs indiciados pela chacina da Baixada. Eles alegaram que ficaram em casa na noite de 31 de março, quando ocorreram os crimes. A testemunha, no entanto, garantiu que o grupo ficou no bar Águia Branca, no Centro de Nova Iguaçu (a 200 metros da sede da Polícia Federal), das 16h às 20h, cerca de 30 minutos antes do início da matança, no bairro da Posse.

Segundo o delegado titular da 58ª DP (Posse), Roberto Cardoso, a testemunha reconheceu, por fotos, os cabos Marcos Siqueira Costa e José Augusto Moreira Felipe e os soldados Carlos Jorge Carvalho e Júlio Cesar Amaral de Paula. O soldado Fabiano Gonçalves Lopes também esteve no bar, segundo o depoimento, mas saiu antes do restante do grupo. A testemunha contou à polícia que os PMs beberam durante as quatro horas em que permaneceram no bar.

¿ O depoimento derruba o álibi deles de que ficaram em casa durante toda a noite. Foi um depoimento importante para as investigações ¿ disse o delegado.

Ontem de manhã, dois funcionários do Águia Branca disseram que nada sabem sobre os policiais suspeitos. Os empregados contaram que só trabalham no período da manhã e não ouviram qualquer comentário sobre a reunião do grupo no bar antes da chacina. O estabelecimento fica numa das ruas mais movimentadas do Centro de Nova Iguaçu e a aproximadamente quatro quilômetros do bairro da Posse.

O filho do dono do bar, que segundo investigações seria amigo dos policiais, negou ter emprestado a eles uma casa na Rua Wilson Tavares, em Queimados, onde as ações do grupo eram planejadas. A polícia chegou até o endereço após um telefonema anônimo para a Delegacia de Homicídios da Baixada. A casa fica ao lado da residência do soldado Ivonei de Souza, um dos PMs acusados de envolvimento na chacina.

O lugar também estaria servindo de cativeiro para vítimas de extorsão. Segundo o chefe de Polícia Civil, Álvaro Lins, denúncias dão conta de que os PMs levavam para lá caminhoneiros, que ficavam como reféns enquanto outros policiais faziam saques em caixas eletrônicos.

COLABOROU Célia Costa