Título: UM BANQUEIRO ENTRE GRAMPOS E ESPIONAGEM
Autor: Mirelle de França
Fonte: O Globo, 14/04/2005, Economia, p. 21

Quem ouvia os elogios ao ¿aluno brilhante¿ e ao ¿gênio das finanças¿ não poderia supor que Daniel Dantas terminaria envolvido em tantos escândalos. O baiano de 50 anos está no meio de assuntos polêmicos desde a privatização da Telebrás, em 1998. Meses depois, vieram à tona as escutas telefônicas que flagraram o então ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros articulando benefícios ao Opportunity para a privatização ¿ o episódio dos ¿grampos do BNDES¿.

Cerca de duas décadas antes, Dantas havia se formado em engenharia na Bahia. A mudança para o Rio aconteceu em 1979. Já na Fundação Getúlio Vargas, era o aluno predileto do ex-ministro Mario Henrique Simonsen, que o indicou para o Bradesco, onde chegou a vice-presidente. Saiu junto com Antonio Carlos de Almeida Braga, que partia para vôo solo ¿ para administrar a fortuna do banqueiro no Banco Icatu, criado em 1986. O Icatu prosperou, a gorda remuneração de Dantas incomodou e desta vez foi ele quem partiu. Em 1994, criou o Opportunity.

Também foi Simonsen quem apresentou Dantas a Fernando Collor de Mello. Dantas ajudou a fazer o plano de governo e chegou a ser sondado para o Ministério da Fazenda, mas a conversa não prosperou. O banqueiro também foi sempre muito ligado ao senador Antonio Carlos Magalhães.

Com o Opportunity, Dantas ficou conhecido por entrar nos negócios com pouco dinheiro, angariando gestores. Atraiu o Citibank e fundos de pensão brasileiros para comprar empresas nas privatizações.

Em 2000, os fundos de pensão entraram na Justiça questionando o poder do gestor. Em 2003, conseguiram destituir o Opportunity da gestão do fundo CVC. Este ano, o Citigroup, que até então apoiara Dantas, fez o mesmo. A decisão recebeu anteontem o aval da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

Na Brasil Telecom (BrT), Opportunity e Telecom Italia brigaram por causa do preço pago na compra da operadora CRT. Em 2004, o Opportunity enfrentou seu maior escândalo: descobriu-se que a empresa de espionagem Kroll fora contratada pela BrT e por Dantas para investigar a Telecom Italia. Foi violado até o e-mail do ministro Luiz Gushiken. Ontem, Dantas foi indiciado pela Polícia Federal.