Título: PF INDICIA DONO DO OPPORTUNITY
Autor: Mirelle de França
Fonte: O Globo, 14/04/2005, Economia, p. 21

Daniel Dantas depõe e sai suspeito de formação de quadrilha, corrupção e espionagem

Último a depor no inquérito do Caso Kroll, o banqueiro Daniel Dantas, dono do grupo Opportunity, sofreu ontem uma nova derrota: foi indiciado pela Polícia Federal (PF) por formação de quadrilha, corrupção ativa e divulgação de segredo (espionagem ilegal). Na véspera, uma decisão da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) já afastara o Opportunity do controle da Brasil Telecom (BrT) e das operadoras de celular Brasil Telecom GSM, Telemig Celular e Amazônia Celular, transferindo o poder para os fundos de pensão liderados pela Previ (dos funcionários do Banco do Brasil) e o Citigroup, seus sócios nas empresas.

O banqueiro aguarda, agora, a entrega do relatório da PF ao Ministério Público Federal (MP) de São Paulo ¿ o que deve acontecer até o fim da próxima semana ¿ que pode enviar ou não uma denúncia à Justiça.

Sem dar entrevistas, Dantas chegou à sede da PF no Rio duas horas antes do início do depoimento, marcado para as 10h, e foi interrogado durante mais de duas horas e meia. Segundo a PF, o banqueiro negou a acusação de que montou um esquema ilegal para investigar integrantes do governo e a Telecom Italia, sua sócia da BrT, ao contratar os serviços da consultoria americana Kroll. Também acusada de participar do esquema, Carla Cico, presidente da BrT, já havia sido indiciada na segunda-feira em Brasília, também por formação de quadrilha, espionagem ilegal e corrupção ativa.

Advogado crê em novas investigações

A PF informou, ainda, que 20 pessoas foram indiciadas no inquérito e que, com exceção de Dantas e Carla, todas eram funcionárias da Kroll ou ligadas à consultoria. A expectativa da PF é de que outros inquéritos poderão ser abertos como conseqüência do que foi apurado nas últimas investigações, que envolveram buscas em 16 locais.

O advogado de Dantas, Nélio Machado, acredita que o MP vai pedir novas investigações, uma vez que, segundo ele, as provas que levaram a PF a indiciar o dono do Opportunity são inconsistentes.

¿ Repito que esse é um inquérito tendencioso. Acredito que o MP vai pedir novas diligências, porque o inquérito não está em condições de ser encerrado ¿ afirmou ontem o advogado, que confirmou que Dantas negou as acusações.

Além do inquérito, Dantas terá uma nova frente de batalha, desta vez dentro das empresas em que o Opportunity tem participação, em mais um capítulo da briga societária que envolve a Telecom Italia, o banqueiro e os fundos de pensão. Com a decisão da Anatel, que afastou o grupo de Dantas da gestão das companhias, os sócios do banqueiro vão partir agora para substituir os executivos indicados pelo Opportunity nas companhias onde o fundo de investimentos CVC tem o controle.

Além das telefônicas, os fundos CVC nacional e estrangeiro estão no controle de empresas como a Sanepar e têm a concessão do Metrô do Rio. O Opportunity já havia sido destituído da gestão do CVC nacional (hoje chamado de Investidores Institucionais) pelos fundos de pensão em 2003, medida que foi avalizada ontem pela agência. Em março deste ano, o Citigroup, cotista do CVC estrangeiro, também afastou Dantas do poder. Agora, o Opportunity permanece acionista das empresas com uma participação minoritária no CVC e por meio de outras holdings. Mas Citigroup e os fundos de pensão estão unidos para, gradualmente, retomar o controle de fato. Na Telemar, o Opportunity é investidor por meio de outra empresa e não tem assento no conselho de administração.

Alberto Guth, da Angra Partners, nova gestora do CVC nacional, afirmou ontem que vai esperar a publicação da decisão da Anatel no Diário Oficial para convocar assembléias de acionistas das empresas em questão. O objetivo é trocar, na prática, o controle das companhias. Guth disse, ainda, que agora é o momento de se resolverem os problemas societários das operadoras, e descartou, num primeiro momento, a venda de participações:

¿ Agora é o momento de os fundos assumirem o leme das empresas. Existem interessados, a Telecom Italia é um dos potenciais compradores, mas é hora de solucionar os imbróglios.

A possibilidade de a Telecom Italia recomprar a participação na BrT fez as ações da operadora subirem ontem na Bolsa de Valores de São Paulo. As ações preferenciais (sem direito a voto) fecharam em alta de 1,75%, a R$11,60 o lote de mil. Já a ação ordinária da BrT Participações subiu 0,36%, para R$27,50 o lote.

A Telecom Italia, que teve de se afastar do controle da BrT e tenta obter autorização na Justiça para voltar, já anunciou o interesse em comprar mais participação.

COLABOROU Wagner Gomes, do Globo Online