Título: PLANALTO APOSTA EM DIVISÃO ENTRE OS SEM-TERRA
Autor: Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 16/04/2005, O País, p. 12

Intenção do governo é tornar o MLST um novo interlocutor no debate da reforma agrária

BRASÍLIA. O Palácio do Planalto concluiu ontem que a invasão do prédio do Ministério da Fazenda pelo Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST)) oficializou uma divisão, que já existia na prática, entre os movimentos sociais que lutam pela reforma agrária. Segundo assessores do Planalto, até então o Movimento dos Sem Terra (MST) aparecia no cenário como um grupo hegemônico. Para o governo, o MLST passou a ter visibilidade na discussão da reforma agrária no país.

A intenção do governo é tentar tirar proveito dessa divisão entre os sem-terra para ter novos interlocutores no debate agrário. Durante a invasão da quinta-feira, a Secretaria Geral da Presidência e o Ministério do Desenvolvimento Agrário acompanharam de perto as negociações com os líderes do MLST.

Os dois principais coordenadores do MLST, Bruno Maranhão (PE) e Manoel da Conceição (MA), são fundadores do PT e militantes históricos do partido com bom trânsito com o governo Lula. Ontem, Bruno Maranhão comparou a ação do MLST no ministério ao movimento zapatista no México.

¿ Tentamos fazer uma ação ao estilo zapatista, que numa ação inédita chamou atenção para uma causa legítima. No nosso caso, a reforma agrária. Somos os zapatistas no Brasil ¿ disse Maranhão, numa referência ao levante indígena e camponês de Chiapas, ocorrido em 1994.

Maranhão quer para o MLST algo semelhante ao que representou o Exército Zapatista de Libertação Nacional. Apesar de existir há oito anos e estar presente em dez estados com 40 mil militantes assentados ou acampados, o MLST nunca havia obtido visibilidade.

O MLST deve fazer um encontro nacional em outubro, em Brasília. Maranhão espera que o movimento fique definitivamente consolidado.

¿ Queremos ser uma nova referência para a reforma agrária no Brasil.