Título: SECRETÁRIO CRITICA CONSELHO DE MEDICINA
Autor: Evandro Éboli e Carolina Brígido
Fonte: O Globo, 16/04/2005, O País, p. 12

`Vamos pedir ao CRM que indique médicos para suprir a ausência¿, diz ele

PALMAS e BRASÍLIA. O secretário de Coordenação Institucional do governo de Tocantins, Paulo Miranda, protestou ontem contra a decisão judicial provocada pela ação do Conselho Regional de Medicina que impediu a permanência dos médicos cubanos. No total, 42 municípios, nos quais os cubanos atuavam no programa Saúde da Família, ficaram desassistidos.

¿ Vamos pedir ao conselho que indique médicos para suprir a ausência dos cubanos, que estavam atendendo em lugares em que os brasileiros se recusam a ir trabalhar. A formação médica no Brasil é muito elitista. Os médicos só querem ficar nos grandes centros e desprezam o interior, onde há uma carência de atendimento básico ¿ criticou Miranda.

Em Rio da Conceição, único médico foi embora

Um dos municípios que vão ficar sem assistência é Rio da Conceição, onde vivia há mais de dois anos o cubano Rolando Osório Verdícia. Rolando tinha deixado mulher e dois filhos em Cuba para trabalhar no Brasil.

¿ Em Cuba, temos um conceito que o médico tem de estar no lugar em que se precisa dele, onde sua profissão é mais útil, mais humana. Por isso é que assumimos essa responsabilidade. Fui indicado para uma cidade muito carente, onde não havia médico. A comunidade me recebeu com muito carinho ¿ lamentou Rolando.

Ele criticou o Conselho Regional de Medicina de Tocantins por ter chamado os cubanos de curandeiros, como foi citado na sentença judicial:

¿ Com essa saída brusca, com essa ilegalidade em que eles dizem que estamos, tivemos que deixar muitos pacientes chorando, pessoas carentes imaginando que ficarão desassistidas. Tivemos que confortá-los, tentando explicar que estamos indo embora não porque queremos, mas em função de uma situação objetiva e que, de qualquer forma, eles estarão em nossos corações.

Segundo a Secretaria de Saúde de Tocantins, os cubanos também trabalhavam num diagnóstico do atendimento e da qualidade de vida dos moradores dos 42 municípios.

¿ Estávamos nos empenhando neste trabalho de diagnóstico de saúde da população que, agora, não será concluído. Ficamos muito tristes, porque tínhamos um relacionamento muito próximo com as comunidades ¿ disse, quase aos prantos, a médica Leigimare Del Carmem Padron, que trabalhava no município de Riachinho.