Título: TRF CHEGA TARDE PARA EVITAR SAÍDA DE CUBANOS
Autor: Evandro Éboli e Carolina Brígido
Fonte: O Globo, 16/04/2005, O País, p. 12

Decisão beneficiava 59 médicos impedidos pela Justiça Federal de atuar em Tocantins, mas avião já havia decolado

BRASÍLIA. Três horas depois da decolagem em Brasília do avião enviado pelo presidente Fidel Castro para buscar os 59 médicos cubanos proibidos de trabalhar em cidades carentes de Tocantins, o Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região derrubou a decisão da Justiça Federal de Tocantins que impedia a atuação desses médicos por falta de registro no Conselho Regional de Medicina (CRM).

Tristes e contrariados, os médicos cubanos foram embora lamentando a decisão da Justiça e dizendo que gostariam de permanecer no Brasil. Especializados em cursos de medicina geral e integral, os cubanos atuavam no Programa de Saúde da Família. O CRM alegou que os diplomas dos profissionais cubanos não são reconhecidos no Brasil, o que irritou o presidente Fidel Castro.

Desembargador alega que população ficará prejudicada

O despacho derrubando a decisão judicial de primeira instância foi assinado pelo presidente do TRF, desembargador Aloísio Palmeira. Ele afirmou que a proibição não tem sentido, já que o acordo de cooperação bilateral sobre o tema está prestes a ser concluído. O magistrado também ressaltou que, sem esses profissionais, o sistema de saúde do Tocantins ficará desfalcado, o que prejudicará a população.

¿Se, por um lado, preocupa o exercício da medicina por profissionais ainda não credenciados pelo órgão fiscalizador, por outro, tem relevância constitucional a continuidade da prestação do serviço de saúde pública naquele estado e já tão deficiente no país¿, escreveu o desembargador.

Os médicos cubanos deixaram o país num avião da Cubana de Aviação, a empresa aérea estatal de Cuba, enviado especialmente para buscá-los. Ao subir as escadas do avião, eles desfraldaram uma bandeira de Cuba, mas não fizeram críticas às autoridades brasileiras para não criar um incidente diplomático.

Médicos retornariam com decisão favorável

Durante o embarque, autoridades cubanas disseram que os médicos retornariam ao Brasil se houvesse alguma decisão favorável a eles. O embaixador de Cuba no Brasil, Pedro Nuñez Mosquera, disse que os cubanos trabalhavam felizes e para eles essa missão em Tocantins significa cumprir o dever de ajudar a sociedade.

¿ A medicina de Cuba é reconhecida no mundo inteiro. É uma potência médica mundial e temos aqui esse reconhecimento ¿ disse o embaixador.

Os cubanos recebem salário de R$4.500, além de moradia e alimentação. O governo de Tocantins financia o programa, em convênio com as prefeituras, e diz que não encontrou médicos brasileiros dispostos a morar nas cidades do interior. Metade do que recebem como salário, os cubanos enviam para o governo de Fidel Castro, que destina a verba para custear a saúde naquele país.

Desde 2001 trabalhando em Tocantins, Camilo Gonzalez Perez atuava em Maurilândia, uma cidade pobre, sem asfalto e sem infra-estrutura. Era o único médico da cidade.

¿ Estamos sempre à disposição do governo de Cuba, que nos envia para lugares que necessitam de nossa ajuda ¿ disse Perez.

Médicos ficam à disposição do governo cubano

O conselheiro da embaixada cubana, Juan Roberto Loforte, informou que os médicos não são voluntários. Ele afirmou que os cubanos estão sempre à disposição do governo e participam de programas de atendimento em outros países.

A médica Yamelis Garrido disse que é maravilhosa a relação com a população brasileira. Ela trabalhava na cidade de Oliveira de Fátima, uma das menores do país, com 1.220 habitantes.