Título: `VAMOS RESISTIR E PERMANECER NA TERRA INDÍGENA¿
Autor: Lóide Silva, Evandro Éboli e Luiza Damé
Fonte: O Globo, 16/04/2005, O País, p. 13

Políticos e fazendeiros reagem à decisão do governo de homologar em área contínua a reserva Raposa Serra do Sol

BOA VISTA e BRASÍLIA. Políticos e fazendeiros de Roraima reagiram contra a decisão do governo de homologar em área contínua a reserva indígena Raposa Serra do Sol. O decreto de homologação foi assinado ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em solenidade no Palácio do Planalto. O governador de Roraima, Ottomar Pinto (PTB), disse que vai propor nova ação judicial contra a União porque não aceita que apenas entre 7% das terras do estado estejam sob a jurisdição do governo estadual:

¿ Essa é uma situação irreal que inviabiliza os interesses socioeconômicos do estado. Estou indignado com a promessa do governo federal de compensar Roraima pela demarcação da reserva repassando ao estado terras arrecadadas pelo Incra.

Líder dos produtores de arroz no estado e donos de fazendas no interior da reserva, Paulo César Quartiero disse que os arrozeiros vão resistir à portaria do governo e não vão deixar a reserva. Ele afirmou que a portaria que demarcou a área e o decreto presidencial que a homologou são ilegais. Os arrozeiros têm um ano a partir de hoje para abandonar a reserva.

¿ Vamos resistir e permanecer na terra indígena mais tempo do que a duração do mandato do presidente Lula ¿ ameaçou Quartiero.

A Assembléia Legislativa de Roraima reuniu-se em sessão extraordinária ontem e aprovou moção de repúdio contra o presidente Lula e o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Os fazendeiros fizeram, nos últimos dois anos, uma série de protestos contra a demarcação da terra. Apoiados por índios, paralisaram estradas, invadiram prédios públicos e até seqüestraram religiosos que defendem a homologação em área contínua. Quartiero disse que essas manifestações podem se repetir.

O Conselho Indígena de Roraima (CIR) elogiou a homologação, mas índios contrários à medida do governo, entre eles o macuxi Jonas Marcolino, disseram que vão protestar e lançar mão de medidas judiciais. Os índios contra a homologação representam 20% do total da população indígena da reserva, de 6.484 índios.