Título: AGORA, A DÚVIDA: APOIAR OS URUGUAIOS OU NÃO?
Autor: Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 16/04/2005, Economia, p. 25
Castillo é mal-visto desde que apresentou proposta favorável aos subsídios dos ricos
BRASÍLIA. O episódio de ontem, em Genebra, trouxe uma amarga lição ao governo brasileiro: é preciso aproveitar as oportunidades, para não chegar atrasado às grandes decisões. Agora, o Brasil se vê numa posição difícil e pode até se isolar no Mercosul, caso decida não apoiar o uruguaio Carlos Pérez del Castillo na disputa pela diretoria-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC). Afinal, a candidatura do representante do Brasil na OMC, Luiz Felipe de Seixas Corrêa, foi lançada em outubro do ano passado justamente para evitar que Castillo vencesse.
Castillo se tornou persona non-grata em Brasília por ter, como presidente do conselho-geral da OMC, apresentado uma proposta considerada favorável aos interesses agrícolas da União Européia (UE) e dos Estados Unidos, antes da reunião ministerial de Cancún, no México, em setembro de 2003. O Brasil reagiu articulando a criação do G-20, grupo de países em desenvolvimento que evitou que as nações mais ricas do mundo saíssem vitoriosas daquele encontro.
A reunião terminou em impasse, mas, poucos meses depois, o G-20 conseguiu dar andamento às negociações agrícolas.
Viagens serviam para caçar votos para Seixas Corrêa
Desde o lançamento da candidatura de Seixas Corrêa, iniciou-se uma intensa campanha do governo brasileiro para convencer os países associados à OMC a votarem no diplomata. Tanto Seixas Corrêa como o ministro Celso Amorim e o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitaram as viagens internacionais ou as recepções a autoridades estrangeiras em Brasília para defender a candidatura do embaixador brasileiro à OMC.
O problema é que, como disse na última quinta-feira o embaixador da Argentina, Juan Pablo Lohlé, o Brasil chegou tarde. Castillo já havia obtido o apoio dos argentinos, dos paraguaios, dos mexicanos e de outros países da América Latina. Os africanos diziam que precisavam estar ao lado de seu candidato, das Ilhas Maurício.
Os americanos não declaravam seu voto e apenas um ou outro país árabe ¿ como foi o caso do Kuwait e do Catar ¿ o faziam. Mas gigantes mundiais, como a China e a Índia, tornaram pública sua intenção de votar em Seixas Corrêa.
A melhor notícia sobre o processo eleitoral na organização foi recebida pelo governo brasileiro há cerca de três semanas. O conselho-geral do organismo havia concordado em que cada um dos 148 países apresentasse uma lista com três candidatos de sua preferência. Isso significava que, a despeito dos candidatos oficiais, o nome de Seixas Corrêa poderia entrar nas listas, o que reforçou o otimismo do Brasil. Mas isso não aconteceu e a candidatura acabou sendo mal-sucedida. (Eliane Oliveira)
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