Título: BRASIL DERROTADO NA OMC
Autor: Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 16/04/2005, Economia, p. 25

País não emplaca Seixas Corrêa para presidência da organização. Lamy é favorito

Tida como vitoriosa em diversas frentes do cenário internacional, a política externa do governo Lula sofreu ontem sua primeira grande derrota, justamente num dos pontos considerados prioritários pelo Itamaraty: a disputa pelo cargo de diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC). O candidato do Brasil, Luiz Felipe de Seixas Corrêa, foi eliminado na primeira fase de consultas realizadas pelos membros do conselho-geral do organismo. Saiu na frente o ex-comissário de Comércio da União Européia, Pascal Lamy, seguido pelo representante das Ilhas Maurício, Jayen Krishna Cuttaree, e pelo uruguaio Carlos Pérez del Castillo.

É de praxe nas votações que o candidato que fica em último lugar na consulta desista de concorrer. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, concordou em retirar a candidatura do embaixador brasileiro, mas, refletindo o clima de consternação no Itamaraty, afirmou que a eliminação de Seixas Corrêa foi uma surpresa decepcionante para o governo. Embora afirme que não vai contestar o resultado, Amorim fez duras críticas ao sistema utilizado pelos membros do conselho-geral da OMC, responsáveis pela eleição. Para o chanceler, houve total falta de transparência, o que sugeriria uma estratégia para eliminar Corrêa logo na primeira fase de seleção:

¿ Estamos decepcionados com o fato de que não houve uma fundamentação clara das razões que levaram à eliminação do embaixador brasileiro. O que nos foi dito é que os outros candidatos tinham mais condições de assumir o cargo. No entanto, não recebemos qualquer explicação nem fomos informados sobre os números da votação. É como se houvesse uma eleição em que se abrisse a urna e, ao se perguntar quantos votos foram obtidos, a resposta fosse: isso não podemos revelar, porque é confidencial.

Amorim não quis entrar em detalhes sobre que tipo de conspiração haveria contra o candidato brasileiro. No entanto, fontes da área diplomática comentaram que sempre existiu a desconfiança de que poderia haver uma manipulação para afastar o Brasil, que vem se projetando como líder dos países em desenvolvimento nas negociações agrícolas.

¿ Só tenho a dizer que isso deixa uma suspeita no ar ¿ sintetizou.

China anunciara apoio ao Brasil

As críticas de Amorim se dirigiram especificamente à responsável pelo processo de consultas, a queniana Amina Chawahir Mohamed, presidente do conselho-geral da OMC. Amina chegou a confirmar ontem, em Genebra, que Pascal Lamy obtém o maior respaldo entre os 148 países associados ao organismo. E enfatizou que ¿o menor consenso parece ser em torno do candidato do Brasil, Luiz Felipe Seixas Corrêa¿. Uma segunda rodada de consultas está marcada para quinta-feira. Como resultado, deverão sair apenas dois candidatos. Mas o Brasil ainda não decidiu quem vai apoiar nessa segunda fase: o uruguaio, o europeu ou o africano.

Embora dos pontos de vista lógico e geográfico os brasileiros tivessem de ficar ao lado de Castillo, não é certo que isso vá acontecer, pois há fortes restrições no governo brasileiro quanto ao representante do Uruguai. Tanto é assim que o Itamaraty só lançou a candidatura de Seixas Corrêa para minar a de Castillo, considerado fraco para estar à frente de um organismo em que serão travadas negociações cruciais, especialmente no caso da agricultura. Durante a campanha de Seixas Corrêa, entre os países que anunciaram apoio ao Brasil estavam China, Índia, Catar, Kuwait, Tailândia e Panamá. México, Argentina e o Paraguai, já haviam decidido apoiar o uruguaio.