Título: POLÍCIA PRENDE 20 POR EXPLORAÇÃO DE MULHERES
Autor: Orlando Carmo Arantes
Fonte: O Globo, 15/04/2005, O País, p. 8

Prisões de aliciadores, prostitutas e agentes de turismo ocorreram em Goiás e na Espanha

GOIÂNIA. A Polícia Federal prendeu ontem em Anápolis, a 50 quilômetros de Goiânia, e em Santander, na Espanha, 20 pessoas acusadas de integrar uma quadrilha que mandava prostitutas para a Europa. Em Anápolis foram presas sete pessoas, entre elas Neiva Inês Jacoby, a Gaúcha, chefe da rede de tráfico de mulheres, e Jair Pedrosa Júnior, dono de uma empresa de turismo suspeita de integrar o esquema de aliciamento.

Em Santander, 11 goianas foram detidas com o gerente e o dono de uma boate onde elas fariam programas. A Operação Castanhola, como foi batizada pela PF, contou com a participação das polícias de Portugal e da Espanha. No Brasil, a ação, deflagrada às 4h30m, foi realizada por 60 agentes da PF.

Apenas um mandado de prisão não foi cumprido

Dos oito mandados de prisão preventiva decretados pela Justiça Federal, apenas um não foi cumprido. Além dos dois chefes da quadrilha, foram presos os aliciadores Antônio Auto de Oliveira, Adriana Aires Ribeiro Oliveira, Carla Barbosa de Barros e Laudelina Mateus da Silva, e uma funcionária da agência de turismo, Thaís Ramos da Silva, encarregada de superfaturar os preços das passagens e de receber as remessas de dinheiro enviadas por aliciadores europeus.

A quadrilha vinha sendo investigada há um ano. No período, 12 pessoas foram presas, inclusive um agente da Polícia Federal. Nas casas dos suspeitos foram apreendidos dezenas de passaportes, agendas, computadores e documentação relacionada à atuação do grupo.

A secretária nacional de Justiça, Cláudia Chagas, acompanhou a operação. Ela disse que, além da repressão, o governo federal realiza ações preventivas de esclarecimento de possíveis vítimas e medidas de apoio à reintegração das mulheres repatriadas.

O delegado Luciano Ferreira Dornelas, que comandou a operação em Goiás, acredita que pelo menos a metade das garotas de boa aparência e pouca condição financeira que obtém passaporte para viajar com destino à Europa acaba engrossando o contingente de brasileiras que viajam para se prostituir:

¿ Essas mulheres, com idade entre 19 e 28 anos, são vítimas de uma arapuca. Já chegam a seu destino devendo três mil euros (mais de R$10 mil) e viram escravas de um esquema perverso que retém seus passaportes e as mantêm em cárcere privado ¿ afirmou o delegado.

A rede de aliciadores encontrou em Goiás um terreno fértil para recrutar jovens carentes que enxergam na experiência européia uma chance de sair da miséria. Dornelas explica que algumas são iludidas com promessa de emprego como garçonete ou camareira, mas a maioria sabe que vai trabalhar como prostituta.

Não há, de acordo com o delegado, estatística disponível sobre o número de brasileiras que se prostituem na Europa. Porém, há a informação que cerca de 200 mulheres de Goiás estariam se prostituindo principalmente em Portugal e na Espanha.

Os aliciadores recebem em média 300 euros por mulher recrutada. A quadrilha recebe um extra pelo superfaturamento das passagens, que, em geral, têm seus preços aumentados em pelo menos 20% do preço original. A investigação em Goiás continua porque há, conforme a PF, recrutadores de jovens em diversos municípios do estado. Entre eles Uruaçu, a 285 quilômetros de Goiânia, onde boa parte da economia, segundo a polícia, é movimentada pelo dinheiro enviado pelas prostitutas.

Presos foram indiciados por tráfico de pessoas

Os sete presos em Anápolis foram indiciados por formação de quadrilha e tráfico internacional de pessoas. Caso sejam condenados, podem pegar até 11 anos de cadeia. O delegado Dornelas enfatiza que a vida dessas mulheres na Europa não é fácil, ao contrário do que sugerem os aliciadores ao recrutá-las:

¿ Essas mulheres tornam-se escravas sexuais e, mesmo que não façam programa algum, são obrigadas a pagar diária na boate. Quando a dívida se torna impagável, passam a viver em cárcere privado, entregando aos donos da boate todo o dinheiro que ganham ¿ afirmou o policial.