Título: LULA PEDIRÁ A DILMA ATUAÇÃO MAIS POLÍTICA
Autor: Gerson Camarotti e Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 15/04/2005, Economia, p. 33

José Dirceu critica ministra em relação à Angra 3, mas a defende no caso da rejeição de Fantine

BRASÍLIA. Irritado com relatos que recebeu durante a viagem à África, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu enquadrar a ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff. Ele terá uma conversa com a ministra nos próximos dias para saber se ela está criando dificuldades para a base governista no Congresso. Na terça-feira, para mostrar a insatisfação de aliados com Dilma, senadores do PMDB rejeitaram na Comissão de Infra-estrutura a indicação do engenheiro químico José Fantine para a direção-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP).

A própria ministra não esconde seu desconforto. Ontem ela se reuniu com o líder do PT no Senado, Delcídio Amaral (MS), que antes conversou com o líder do PMDB, senador Ney Suassuna (PB), e com o senador Alberto Silva (PMDB-PI) para tentar contornar o impasse. Além de cargos em empresas do setor elétrico e estatais, eles cobram outra postura da ministra no trato com parlamentares.

¿ Temos que ter tranqüilidade para desenvolver os trabalhos legislativos no Congresso e resolver a situação do PMDB de forma especial ¿ disse Delcídio.

Ministro diz que Dilma ainda está a salvo da demissão

No Palácio do Planalto há uma grande insatisfação com o fato de a ministra achar que, por ser uma técnica, não precisa fazer política. Quarta-feira, na reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, desautorizou a posição da ministra, contrária à construção da usina nuclear Angra 3 ¿ uma decisão política. Segundo um interlocutor próximo do presidente, a posição de Dilma foi interpretada como uma provocação ao Planalto, pois pode passar a idéia de divisão no governo.

Mas Dirceu socorreu Dilma ontem ao defender a indicação de Fantine. Num recado ao PMDB, ele disse que quem é contra Fantine na ANP deve entregar seus cargos no governo e se mostrou confiante de que a indicação será aprovada no plenário do Senado.

¿ Essa é uma indicação do presidente da República e quem afirma que esse nome não deve ser aprovado deveria entregar o seu cargo. Mas não há nenhum problema na base (de apoio ao governo) no Senado. É um incidente isolado e não é de responsabilidade da ministra Dilma ¿ disse Dirceu. ¿ Ela não fez nada que possa ter levado a isso (à derrota).

Só que outros ministros e o próprio Lula já receberam reclamações sobre Dilma. Acredita-se que o presidente deixe claro que ela precisa se empenhar na articulação política.

Por enquanto, segundo um ministro, Dilma está a salvo da demissão. Mas ela foi alertada por integrantes do governo de que pode ser substituída, já que sua pasta não é uma área de atuação histórica do PT, como Saúde, Educação ou Cidades. Sem uma base parlamentar em defesa de seu ministério, o único fiador hoje de Dilma no governo é o presidente Lula.

Depois de ser responsabilizada pela derrota do governo, Dilma decidiu fugir do assédio da imprensa. Na quarta-feira, ela não concedeu entrevista depois da reunião do CNPE, e ontem, no ministério, foi assinado um protocolo de intenções entre a Eletrobrás e a coreana Kepco sem divulgação prévia. Outra hipótese, já que a ministra não costuma fugir dos jornalistas, é que tenha recebido ordem do Planalto de se recolher para facilitar as negociações com o PMDB.

Procurada ontem pelo GLOBO, Dilma não retornou o pedido de entrevista.

COLABOROU: Mônica Tavares