Título: WOLFENSOHN DESABAFA NO BANCO MUNDIAL
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 15/04/2005, Economia, p. 35
Presidente do Bird lamenta má vontade de países ricos e elogia seu sucessor, um falcão do Pentágono
WASHINGTON. Prestes a terminar, no dia 1º de junho, uma carreira de dez anos como presidente do Banco Mundial (Bird), James Wolfensohn fez ontem um desabafo ao narrar sua frustração na tentativa de convencer os países ricos a contribuírem para que os demais tenham um padrão de vida mais digno. Ele manifestou sua decepção por meio de uma rápida comparação. Wolfensohn lembrou que enquanto os gastos militares chegam a US$1 trilhão anual e os países industrializados utilizam US$300 bilhões em subsídios para proteger artificialmente seus produtores agrícolas ¿ ¿o que inibe o crescimento dos países em desenvolvimento¿ ¿ eles empregam apenas cerca de US$60 bilhões em ajuda ao desenvolvimento dos mais pobres:
¿ Não dá para imaginar nada mais absurdo. É preciso ser doido para achar que dessa forma vai-se resolver o problema. Não se trata de falta de recursos e sim de comprometimento. A questão agora é de urgência ¿ disse, em entrevista coletiva, no segundo dia de reunião semestral do Bird e do Fundo Monetário Internacional (FMI). ¿ Acho que estão começando a perceber que os pobres não devem ser objeto de caridade e sim, parte da solução.
Wolfensohn afirmou que suas tarefas mais duras foram tornar a instituição menos burocrática e, principalmente, mudar a mentalidade de seus economistas:
¿ Foi difícil fazer com que o banco abrisse mão da liderança (nos projetos), passando-a aos países, e difícil fazer com que pensassem que não éramos os únicos no mundo capazes de fazer projetos ou estudar algo.
Para ele, o Bird hoje ¿ouve mais¿:
¿ A instituição está mais preocupada com o nível humano e não apenas com o econômico, monetário e estatístico.
Wolfensohn apoiou a escolha de seu sucessor, o subsecretário de Defesa, Paul Wolfowitz, um dos artífices da guerra no Iraque:
¿ Ele seria louco se chegasse a esse trabalho sem boas intenções. Acho que ele tem capacidade de aprender e será um excelente líder. E nem ele nem o governo estão me pagando para dizer isso.