Título: CARDEAL ARGENTINO SERÁ INVESTIGADO PELA JUSTIÇA
Autor: Janaina Figueiredo
Fonte: O Globo, 16/04/2005, O Mundo, p. 32
Bergoglio é acusado de participação em seqüestro na ditadura
BUENOS AIRES. O arcebispo de Buenos Aires, cardeal Jorge Bergoglio, considerado um dos favoritos pela imprensa internacional à sucessão do Papa João Paulo II, foi acusado ontem de ser um dos responsáveis pelo seqüestro de dois padres jesuítas, ocorrido em 23 de maio de 1976. A denúncia foi apresentada pelo advogado Marcelo Parrilli, membro de organizações de defesa dos direitos humanos na Argentina.
O juiz Norberto Oyarbide, encarregado do caso, investigará a suposta participação de Bergoglio no seqüestro dos padres Orlando Virgilio Yorio e Francisco Jalics, que na época em que foram presos pelos militares realizavam trabalhos sociais numa vila do bairro de Flores, em Buenos Aires. Ambos foram levados para a Escola de Mecânica da Marinha (Esma), principal centro de tortura da ditadura argentina (1976-1983).
Parrilli apresentou denúncia sustentada em informações publicadas pela imprensa local e no livro ¿Igreja e ditadura¿, escrito pelo falecido Emilio Mignone, um dos fundadores do Centro de Estudos Legais e Sociais. O livro inclui declarações de Yorio, que morreu há cinco anos, no Uruguai. Antes de falecer, o padre jesuíta assegurou que não tem ¿motivo para pensar que Bergoglio fez alguma coisa a meu favor, muito pelo contrário¿. O padre Jalics vive hoje na Alemanha.
Cardeal teria deixado padres jesuítas desprotegidos
Segundo o jornal ¿Página 12¿, durante a ditadura Bergoglio manteve forte vínculo com o chefe da Marinha, almirante Emilio Massera, que estava à frente da Esma. A versão publicada pelo diário afirma que, após o golpe de Estado em março de 1976, Bergoglio pediu a um grupo de jesuítas que deixassem de freqüentar a vila de Flores para evitar problemas com os militares. Como os padres alertados optaram por continuar ajudando a comunidade humilde, o cardeal, assegurou o jornal, optou por desvincular-se do grupo, deixando-os desprotegidos em caso de uma ação militar.
Aos 68 anos, o arcebispo de Buenos Aires, nomeado cardeal em 2001, é um homem reservado que evita qualquer contato com a imprensa e, também, com o poder político. Desde que passou a ser mencionado como possível sucessor de João Paulo II, Bergoglio optou pelo silêncio. Sua única declaração sobre o assunto, transmitida pelo porta-voz do Arcebispado, o padre Guillermo Marcó, foi uma crítica ao presidente Lula por ter defendido a escolha de um Papa brasileiro. A publicação de informações sobre seu suposto vínculo com a ditadura não foi comentada pelo Arcebispado de Buenos Aires.