Título: ALTA DE PREÇOS FAZ FUNDOS DE INFLAÇÃO TEREM A MAIOR RENTABILIDADE DO MÊS
Autor: Patrícia Eloi
Fonte: O Globo, 18/04/2005, Economia, p. 18

Apesar do ganho, aplicação tem alto risco e é indicada somente a longo prazo

A forte alta da inflação medida pelo Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) ¿ que triplicou em março, registrando uma taxa de 0,85%, a maior desde agosto do ano passado ¿ e a perspectiva de interrupção no ciclo de alta dos juros fez disparar a rentabilidade dos fundos atrelados a índices de preços (na grande maioria dos casos, IGP-M). No ano, os chamados fundos de inflação acumulam valorização de 3,29% até o último dia 11, de acordo com dados da consultoria Fortuna. São também, até agora, a aplicação mais rentável de abril (1,02%). Já o IGP-M acumula alta de 1,55% no ano, até março.

Apesar dos elevados ganhos dos fundos, que prometem proteger os investidores das variações de preços, analistas recomendam cautela e só indicam a aplicação a longo prazo.

Isso ocorre porque, para preservar o poder de compra dos aplicadores, os gestores compram títulos atrelados a índices de inflação ¿ como as Notas do Tesouro Nacional série C (NTN-Cs), vinculadas ao IGP-M ¿ que têm vencimento a longuíssimo prazo, em até 2031. Quanto mais longo o vencimento dos papéis, maior o risco para os investidores que pensam a curto prazo.

¿ Títulos tão longos costumam sofrer muitas oscilações, o que pode gerar cotas negativas, resultando em perdas para o investidor. Para quem aplica a longo prazo, essas oscilações se diluem ao longo do tempo, garantindo, de fato, uma proteção contra a inflação. Engana-se quem pensa que este é um fundo conservador: é, sim, de alto risco ¿ alerta o economista Alexandre Póvoa, diretor da Modal Asset Management.

Fundo acompanha inflação e trajetória dos juros

Engana-se também quem compra este tipo de produto pensando que o fundo acompanha apenas a trajetória da inflação. Os títulos que integram a carteira também pagam um juro prefixado, conhecido no mercado como cupom. Ou seja, a rentabilidade do fundo é resultado da combinação entre a trajetória da inflação e a dos juros.

Por isso, explica Mário Carvalho, vice-presidente senior de fundos de investimento do banco WestLB do Brasil, um cenário como o atual, de juros com perspectiva de queda (ou em queda efetiva) e inflação em alta, traz ganhos elevados à aplicação, superior à variação da inflação no período.

¿ O investidor ganha duas vezes: com a subida dos índices de preços e com a taxa prefixada paga pelos papéis, acima da cobrada no mercado. Hoje, por exemplo, as projeções são de que a taxa básica de juros pare de subir em abril, para começar a cair no segundo semestre ¿ diz Carvalho.

Já se a inflação sobe, mas há uma expectativa de que os juros subam, o preço dos títulos cai, o que reduz os ganhos que os investidores teriam com a alta da inflação.

¿ Quando o juro cai ou tem perspectiva de queda, o título se valoriza, o que, num cenário de inflação alta, é o melhor dos mundos para esse investidor ¿ explica Renato Ramos, diretor de Renda Fixa do HSBC Asset Management.

Inflação deve manter-se pressionada a curto prazo

Carvalho, do WestLB, avalia o fundo deve continuar tendo uma boa rentabilidade a médio prazo. Ele explica que a quebra da safra no Sul no país pressionou o Índice de Preços do Atacado (IPA), que responde por 60% do IGP-M. Para ele, o choque de oferta resultante da estiagem deve manter a inflação pelo IGP-M em alta nos próximos meses.

Na pesquisa Focus, do Banco Central, que coleta as previsões de cerca de cem instituições financeiras sobre a economia, as projeções para o IGP-M vêm subindo há cinco semanas. As estimativas são de um índice de 6,73% em 2005. Póvoa, do Modal, concorda:

¿ Temos uma clara pressão no atacado puxada pelos preços agrícolas, num quadro que deve se manter por mais três ou quatro meses. No entanto, quem pensa em aplicar no fundo para ganhar no curto prazo, pode esquecer. Claramente temos uma inflação característica de choques de oferta, não de demanda, e esse é um movimento que não deve se sustentar no longo prazo, o que comprometerá os ganhos da aplicação, apesar da tendência de queda dos juros ¿ diz.