Título: EM VEZ DE VERMELHO, MST FAZ ABRIL COR-DE-ROSA
Autor: Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 17/04/2005, O País, p. 14

Movimento desarticula a prometida onda de invasões e se mostra mais moderado do que no governo FH

SÃO PAULO. Um pacto feito com o governo Luiz Inácio Lula da Silva tingiu de cor-de-rosa o anunciado "abril vermelho" do MST. Com exceção de Pernambuco e outros focos menores no Nordeste, os sem-terra reduziram ocupações em regiões estratégicas e desmontaram ações previstas para este mês. Com 200 mil famílias acampadas, mantidas com cestas básicas do governo, o MST tem sido mais moderado no governo Lula do que nas gestões de Fernando Henrique Cardoso, que assentou mais famílias, segundo dados do próprio governo Lula.

Os números do Incra e da Ouvidoria Agrária Nacional mostram que, nos oito anos de Fernando Henrique, houve uma média de 305 ocupações por ano, cerca de 90% delas feitas pelo MST. A cada ano de governo, Fernando Henrique assentou, em média, 65.547 famílias. Com Lula, houve uma média de 274 ocupações por ano, entre 2003 e 2004, cerca de 80% delas do MST. A quantidade de famílias assentadas foi menor: 58.777 famílias por ano.

Nas contas do MST o número de assentamentos foi menor ainda, porque o governo Lula considerou aí a legalização de áreas de assentamentos em vias de legalização. Os cálculos do MST indicam que foram cerca de 43 mil famílias por ano.

O MST resolveu esperar mais um semestre pela reforma agrária. Dirigentes do movimento têm tido encontros com Lula e com alguns ministros. Lula teria prometido acelerar a reforma agrária e melhorar créditos para a agricultura familiar, em troca da não-radicalização do MST.

Caminhada lembrará Eldorado dos Carajás

A única mobilização nacional que o MST fará para lembrar as 19 mortes de Eldorado dos Carajás, ocorridas em abril de 1996, será uma caminhada de Goiânia até Brasília, com a promessa de não ocuparem prédios ministeriais, como fez na quinta-feira o Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST), ala mais radical do movimento dos sem-terra no país. O apoio do MST à reeleição de Lula ainda ficou na dependência do aumento do número de assentamentos.

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