Título: RIO CONQUISTA OS DIPLOMATAS E GANHA 12 NOVOS CONSULADOS EM CINCO ANOS
Autor: Alessandro Soler
Fonte: O Globo, 17/04/2005, Rio, p. 23

Beleza supera violência e esvaziamento econômico na opinião dos cônsules

A próxima quinta-feira marcará os 45 anos da transferência da capital federal. Enquanto o Rio ainda discute seu novo papel, diplomatas e cônsules honorários de diversos países estão em pleno movimento de volta. Nos últimos cinco anos foram abertos aqui 12 novos consulados, segundo levantamento do GLOBO a partir de dados do Itamaraty. Em dez anos, foram quase 20. Algumas representações haviam deixado a cidade décadas atrás. E dois dos países que agora a escolheram, Guiné e Belarus, sequer têm embaixada em Brasília. Esvaziamento econômico e violência não assustam. Todos dizem ter acertado ao aportar em solo carioca.

¿ O Rio é lindo e fica quase a meio caminho de Brasília, a capital política, e São Paulo, a capital econômica ¿ arrisca Victor Psenko, cônsul-geral da República da Belarus (ex-Bielo-Rússia), há três anos aqui. ¿ Além disso, a cidade é o maior centro turístico. É a partir do Rio que incrementaremos as relações bilaterais.

Um ponto é recorrente no discurso dos cônsules: a beleza e a importância do Rio no imaginário mundial são incontestes. Para o cônsul-geral da Holanda, Ronald Brower, que chegou em 2001, poucas metrópoles têm uma aura tão atraente. A Holanda ficou sem um consulado geral aqui por quase uma década. Agora, Brower crê que a expansão dos setores de petróleo e naval ¿reverte a fuga de diplomatas do início dos anos 90¿.

¿ Existe um crescente interesse pelo Rio na Holanda. Eu, pessoalmente, já comprei meu apartamento em Ipanema, minha ligação com a cidade será para sempre ¿ prevê. ¿ Aproveito-a de todas as formas. Pedalo na orla e na Lagoa, vou à praia. O Rio é democrático.

Diplomatas se acostumam até à insegurança

Naturalmente nem tudo são flores. De acordo com Brower, em 2004 seis holandeses tiveram os passaportes roubados por bandidos na cidade. O consulado lhes prestou assistência e emitiu outros.

No andar abaixo do prédio da Praia de Botafogo onde funcionam o consulado da Holanda e os de países veteranos na cidade, problemas semelhantes. O titular do Consulado Geral da Polônia (aberto em 2000), Michal Zawila ¿ que, de tão habituado à cultura brasileira tem um comigo-ninguém-pode na porta ¿ diz já ter sido assaltado três vezes.

¿ Mas sou exceção. O que acontece mais, uma vez por ano, é a morte de um polonês, aqui, de causas naturais. Há dois anos um jornalista famoso foi atropelado no Aterro ¿ lembra. ¿ Cerca de 1.500 poloneses e milhares de descendentes vivem no Rio. Estar aqui não é difícil. A vista que tenho é a mais linda entre as de todos os consulados do meu país.

Enquanto isso, a vista do Consulado Honorário da Eslováquia, no Fashion Mall, é, digamos, diferente. Já o cheiro é o melhor de todos. O caçula dos consulados, aberto há só duas semanas, funciona provisoriamente no segundo andar da loja de perfumes do cônsul, Faiçal Hammoud. Ele agora procura um imóvel na Zona Sul para instalar comme il faut a representação daquele país.

¿ A partir do Rio articulo empresários que queiram exportar para lá. Esperamos dobrar o fluxo de comércio. O Brasil, em 2004, vendeu só US$60 milhões para os eslovacos. Estimularei o turismo também. Com montanhas e arquitetura medieval, a Eslováquia é linda. Como o Rio.

No consulado da Bulgária, no Centro, mais elogios à beleza da cidade. Mas são as relações humanas o que mais agrada à búlgara Nina Grigorova. Ela é secretária do cônsul desde a abertura da representação, a única fora de Brasília, há dois anos (a inauguração oficial foi este ano, pelo presidente Georgi Parvanov).

¿ O estilo de vida e o calor do carioca são únicos ¿ diz.

Esse foi também um aspecto que impressionou as autoridades do Sri Lanka. Segundo o cônsul honorário, Sohaku Bastos, o Rio doou, sozinho, 1.200 toneladas de alimentos para as vítimas das tsunamis de dezembro, muito mais do que o total de Nova York e Washington juntas. Devido em parte à generosidade e em parte ao interesse crescente pelo Brasil, o consulado honorário, que tem três anos, será promovido a consulado geral.

Para o oficial de chancelaria Fernando Carmo, da Divisão de Assistência Consular do Itamary, mais consulados tendem a ser abertos. Ele frisa que, como segunda maior cidade e cartão-postal do país, o Rio tende a receber atenção:

¿ Até os anos 70 o Rio ainda abrigava embaixadas. Custou aos países sair da cidade. No que depender do governo, que reforça os laços internacionais, todos voltarão.