Título: Itamaraty gastou R$519 mil com flores e decoração de eventos no ano passado
Autor: Regina Alvarez
Fonte: O Globo, 17/04/2005, Economia, p. 28

Despesas do governo com jornais e revistas chegaram a R$1,2 milhão

BRASÍLIA. Como o governo gasta o meu, o seu, o nosso dinheiro? Quando a palavra de ordem é restrição orçamentária, alguns gastos feitos pelo governo chamam a atenção. O Ministério das Relações Exteriores, por exemplo, pagou, no ano passado, R$519 mil para uma floricultura de Brasília. A empresa Flores da Alvorada é que fornece as flores e outros detalhes da decoração dos banquetes e eventos internacionais promovidos pelo ministério. O dinheiro gasto no ano passado com essa empresa daria para comprar 14,4 mil buquês de rosas. É o bastante para cativar qualquer convidado.

Uma outra curiosidade descoberta na lista de fornecedores é o gosto do governo pela leitura. Os gastos totais com a assinatura de jornais e revistas, no ano passado, chegaram a R$1,2 milhão, considerando apenas três bancas fornecedoras de Brasília. Pelos dados levantados no Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), só no Ministério da Fazenda esses gastos chegaram a R$289 mil. Aparecem no sistema pagamentos de R$104 mil para a Banca SHLN Ltda. e de R$183 mil para a Papelaria e Revistaria Saruska Ltda., embora a assessoria do ministro Antonio Palocci só reconheça a última fornecedora.

A compra de jornais e revistas destina-se aos funcionários da Esplanada, porém os mais graduados funcionários do Executivo têm também direito a um resumo diário de notícias produzido pela estatal Radiobrás, vendido por cerca de mil reais a unidade. O Ministério das Relações Exteriores gastou R$108 mil na compra de jornais e revistas, no ano passado, e logo a seguir no ranking vem a Presidência da República, com gastos de R$103 mil.

Ciência e Tecnologia gastou R$4,3 milhões com transporte

Alguns gastos do governo soam estranhos à área de atividade ou ao ministério a que estão ligados. É o caso do Ministério da Agricultura, que, em 2004, pagou R$774 mil à Associação Brasileira de Educadores Lassalistas, uma instituição religiosa de ensino de Brasília. A assessoria da pasta comandada por Roberto Rodrigues não esclareceu as razões do gasto.

Já a empresa Flora Garden, de Anápolis, em Goiás, recebeu do governo no ano passado mais de R$700 mil por serviços prestados aos ministérios da Ciência e Tecnologia e da Fazenda (R$232 mil neste último caso). Mas, neste caso, o nome não revela a natureza do serviço. A Flora Garden é uma das tantas intermediadoras de mão-de-obra que freqüentam a Esplanada dos Ministérios. Fornece, na verdade, serviços de copeiro às duas pastas.

Os gastos com transporte também chamam a atenção na lista de fornecedores. Só o Ministério da Ciência e Tecnologia gastou R$4,3 milhões no ano passado com esses serviços, e o nome de algumas empresas poderia levar a conclusões apressadas. A Solazer Transporte e Turismo, por exemplo, recebeu R$1 milhão do governo, mas esta e outras empresas contratadas pelo MCT fazem, na verdade, o transporte de funcionários de órgãos vinculados ao Ministério. Este é também o caso da Turismo Três Amigos, que só transporta os funcionários do Serpro e da Fiocruz no Rio de Janeiro. Por esses serviços, recebeu no ano passado R$490 mil do Ministério da Saúde e mais R$224 mil do Ministério da Fazenda.

Já a empresa Status Baby Brasília Transportes é pequena só no nome. No ano passado, faturou com o governo quase R$1,4 milhão com mudanças e transporte de cargas pesadas. O gerente Cláudio Sestine informa que a Baby faz mudanças no Brasil e no exterior. E, segundo o Siafi, só do Ministério das Relações Exteriores recebeu R$1,3 milhão por esses serviços.

Outra grande prestadora de serviços de mudanças para o governo é a empresa Confiança, de Fortaleza (CE). No ano passado, faturou R$7,6 milhões com os serviços prestados para 13 órgãos federais e o Ministério Público. O Ministério da Previdência gastou R$3,3 milhões com mudanças de funcionários, enquanto o Ministério da Saúde gastou R$4 milhões. Mas, neste caso, segundo o gerente da empresa, Jorge Sampaio, o transporte foi de medicamentos.

Manutenção de jardins do Itamaraty custou R$737 mil

O Ministério das Relações Exteriores gastou, no ano passado, R$737 mil para manter os jardins de Burle Marx e o espelho d¿água que contorna o Palácio do Itamaraty. Os jardins são tombados e a conservação desse patrimônio pesa no bolso do contribuinte.

A empresa de paisagismo S.T. Paisagismo e Decorações também aparece entre os fornecedores do governo. Recebeu, no ano passado, R$359 mil do Ministério da Ciência e Tecnologia, mas é responsável pela manutenção e limpeza de 800 mil metros de área verde no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).