Título: FUNDO INSISTE EM PEDIR MAIS AJUDA DOS RICOS
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 17/04/2005, Economia, p. 29

Estados Unidos e grandes mineradoras temem venda de ouro

WASHINGTON. Para o Fundo Monetário Internacional (FMI), o alívio da dívida é apenas uma alternativa, um primeiro passo. Seu diretor-gerente, Rodrigo Rato, insiste com os países industrializados sobre a necessidade de eles oferecerem uma contínua e maior assistência financeira aos pobres:

¿ Aproveito a oportunidade para, mais uma vez, sublinhar a necessidade do envio de recursos adicionais para financiar o desenvolvimento.

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, por sua vez, acrescentou que o Brasil participou do esforço dos países de renda média e dos ricos para perdoar a dívida, e agora insistirá para que isso seja complementado por uma mudança de atitude:

¿ Nós achamos que a diferença e a desigualdade econômica que separam continentes inteiros precisam ser combatidas com boas políticas. Não há sentido em não evoluir, em não buscar iniciativas que promovam o bem-estar dos mais pobres. Tenho tratado disso diretamente com o secretário do Tesouro americano, John Snow, e com outros.

Opositores apontam efeitos colaterais da medida

Rato disse que uma eventual venda do ouro do FMI teria de ser feita de forma prudente, para não causar transtornos no mercado. Segundo fontes do Fundo, ¿há uma grande simpatia interna¿ para que operações desse tipo sejam realizadas. No entanto, um forte lobby das grandes mineradoras da África do Sul, da Austrália e do Canadá e pressões contrárias do Congresso dos Estados Unidos seriam entraves à venda.

Aqueles países alegam que se o FMI se desfizer de parte de seu ouro haverá uma queda do preço desse metal no mercado mundial, causando perdas em suas exportações, além de desemprego em alguns dos países que a instituição estaria tentando ajudar, como a Tanzânia e o Peru ¿ que são produtores de ouro.

Estoque de ouro do FMI é o terceiro maior do mundo

Parlamentares de 11 estados americanos enviaram recentemente uma carta ao secretário do Tesouro dizendo que ¿uma transação dessas poderia provocar efeitos adversos no mercado¿. Eles disseram ainda que, como a maior porção do ouro que está no FMI pertence aos EUA, a venda significaria que os contribuintes americanos ¿estariam pagando o preço de maus empréstimos feitos pelo Fundo¿.

O FMI tem o terceiro maior estoque de ouro do mundo, num total de 103,4 milhões de onças ¿ que hoje valem cerca de US$44 bilhões. Qualquer transação desse tipo exige a aprovação de ao menos 85% dos acionistas do FMI. Ou seja: é essencial a concordância dos EUA, que detém 17% do poder de voto no organismo.(José Meirelles Passos)