Título: FMI PODE VENDER OURO PARA AJUDAR PAÍSES POBRES
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 17/04/2005, Economia, p. 29

Proposta da Inglaterra será avaliada hoje. Reservas de US$6 bilhões financiariam dívida de economias africanas

WASHINGTON. A venda de parte das reservas de ouro do Fundo Monetário Internacional (FMI) para financiar o alívio da dívida dos países mais pobres é um dos assuntos que devem ser decididos hoje pelas 184 nações que fazem parte do organismo, na reunião conjunta do FMI com o Banco Mundial. No entanto, o diretor-gerente do Fundo, Rodrigo Rato, fez um alerta aos países ricos, cujo voto será essencial para aprovar a operação: essa iniciativa não será suficiente para reduzir significativamente a pobreza naqueles países.

A proposta da venda, feita pela Grã-Bretanha, estipula que ela serviria para cobrir uma parcela de cerca de US$6 bilhões que os países africanos devem ao próprio Fundo. Rato sugeriu que, embora o gesto fosse elogiável, seria preciso que os países ricos fizessem mais para ajudar os necessitados:

¿ Se decidirem a venda para pagar a dívida deles com o Fundo, será preciso levar em consideração que aquele volume não chegará a cobrir 20% da dívida total. Portanto, vamos necessitar de uma estratégia mais ampla ¿ alertou o diretor-gerente do FMI.

O governo do Brasil tem uma posição semelhante. É favorável à venda do ouro, mas também sugere que seja feito algo mais pelos países do Terceiro Mundo. O essencial, segundo disse o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que participa da reunião, seria que os países industrializados derrubassem as barreiras comerciais impostas aos produtos dos demais:

¿ Os países mais pobres seriam fortemente beneficiados com políticas comerciais mais abertas. Não há motivo para manter protecionismo tão elevado ¿ afirmou o ministro. ¿ Por isso é preciso trabalhar nos fóruns de negociação comercial, para que avance a abertura do comércio, principalmente na área agrícola. Isso fará com que países em desenvolvimento e pobres obtenham resultados não por doação, mas pelo seu próprio esforço produtivo, o que é significativo.