Título: MULHERES DENUNCIAM O MACHISMO NA IGREJA
Autor: Deborah Berlinck e Monica Yanakiew
Fonte: O Globo, 17/04/2005, O Mundo, p. 37

Reunidas em Roma, teólogas lembram o papel feminino no catolicismo e reivindicam liberdade de expressão

CIDADE DO VATICANO. Enquanto os cardeais debatem o futuro da Igreja Católica e invocam o Espírito Santo para ajudá-los a escolher o Papa que melhor saberá conduzi-los, um grupo de freiras e teólogas discute temas que o clero masculino ignora há séculos. A poucos quilômetros da Praça de São Pedro, essas mulheres têm realizado debates sobre a maior participação feminina nas decisões eclesiásticas e o direito do padre de se casar.

A professora de teologia Adriana Valerio fez uma lista de mulheres que, desde o começo do cristianismo, foram ativas. Algumas como discípulas de Cristo, outras como estudiosas de religião ou mesmo como propagadoras da fé. Mesmo assim, na História da Igreja Católica seus nomes e suas contribuições são raramente mencionados.

¿ Não queremos apenas a mulher mais presente nos órgãos que tomam decisões na Igreja. Queremos, acima de tudo, ter liberdade de expressão e de pensamento ¿ disse ela, ao denunciar a censura dos bispos, que fecham as portas das faculdades católicas aos teólogos revisionistas.

Teóloga diz que é impedida de dar aulas

Adriana, por exemplo, diz que não pode dar aula nas universidades católicas por causa de suas idéias. Outra teóloga, a norueguesa Kari Elizabeth Berreson, afirmou que o corpo da mulher é tratado da mesma maneira pelos líderes religiosos católicos e muçulmanos: como algo que induz ao pecado. Ninguém fala da espiritualidade feminina, protesta Kari.

Desde a morte do Papa João Paulo II, no último dia 2 de abril, poucas pessoas ousam criticá-lo abertamente ¿ especialmente depois das homenagens prestadas pelo povo, que chegou a pedir sua canonização, e pelos cardeais na Praça de São Pedro. Uma das exceções é o grupo We are Church (Nós somos Igreja), uma rede de católicos progressistas presente em todo o mundo.