Título: `DURMO TRANQÜILO¿, DIZ MINISTRO
Autor: Ricardo Galhardo e Adauri Antunes Barbosa
Fonte: O Globo, 19/04/2005, O País, p. 3
Defesa de Jucá pede ao procurador-geral arquivamento do caso
BRASÍLIA e SÃO PAULO. Os advogados do ministro da Previdência, Romero Jucá, entregaram ontem à Procuradoria Geral da República a resposta à investigação sobre suspeitas de irregularidades no empréstimo do Banco da Amazônia (Basa) à empresa Frangonorte, que pertenceu ao ministro. O procurador-geral, Claudio Fonteles, queria saber onde foram aplicados R$4,6 milhões emprestados pelo Basa. Na defesa, o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro pediu o arquivamento do caso:
¿ Fizemos uma decodificação do montante. No ofício (de Fonteles), consta que seriam R$4,6 milhões. Estamos comprovando que, após a entrada do ministro na sociedade, foi liberado R$1,5 milhão e, no período em que ele era sócio, foram liberados R$750 mil. Estamos fazendo a comprovação de como foi usado o dinheiro na sociedade ¿ afirmou Almeida Castro.
O advogado negou que parte do empréstimo tenha sido usada para pagar dívidas pessoais de Jucá. Embora Fonteles não tenha perguntado sobre as fazendas que não existiriam e foram dadas em garantia ao empréstimo, Almeida Castro atribuiu à Empar, empresa credenciada no Basa que fez a avaliação das fazendas, a responsabilidade pelas propriedades.
Fonteles também recebeu cópias, do Ministério Público de Roraima, dos depoimentos de funcionários contratados por uma cooperativa que prestava serviços para a prefeitura de Boa Vista, comandada por Teresa Jucá, mulher do ministro. Eles dizem ter sido obrigados a fazer campanha para Jucá.
Inquérito no STF apura suspeita de desvio de verbas em Cantá
O procurador vai analisar o material e depois decidirá se arquiva o procedimento, pede abertura de inquérito ao Supremo Tribunal Federal ou, se encontrar provas para isso, apresenta uma denúncia contra o ministro, o que é pouco usual. No STF, um inquérito já apura a suspeita de participação de Jucá num suposto desvio de verbas federais em Cantá (RR).
Ontem, Jucá divulgou na página da Previdência uma nota para rebater diferentes denúncias contra ele publicadas pela revista ¿Época¿, pelo GLOBO, pelo "Estado de S.Paulo" e pela "Folha de S.Paulo". Ele voltou a atribuir as acusações a disputas político-eleitorais e disse que os ataques têm o objetivo de tirar-lhe a tranqüilidade. "A vida política não é feita só de vitórias e alegrias, ela é feita também de injustiças e incompreensões. Mas quero reafirmar meu compromisso de combater as fraudes do sistema previdenciário, diminuir a sonegação e o déficit público e melhorar a qualidade do atendimento do INSS", diz na nota.
Em São Paulo, Jucá acusou seus adversários políticos, em especial parlamentares, de contratar jornalistas para divulgar na imprensa denúncias contra ele. O ministro não deu, porém, os nomes de jornalistas que estariam atuando contra ele:
¿ Diversos jornalistas têm distribuído dossiês. Têm inclusive sites para me atacar, mas isso não me abala ¿ disse ele. ¿ Renúncia não faz parte do meu vocabulário. Também não estou constrangido. Estou fazendo o meu trabalho. Durmo tranqüilo, trabalho tranqüilo e aguardo tranqüilo qualquer tipo de investigação ¿ afirmou Jucá.