Título: FAMÍLIA DE TANCREDO CRITICA NOVA VERSÃO SOBRE MORTE
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Fonte: O Globo, 19/04/2005, O País, p. 4

Em nota, filhos do presidente eleito chamam de mentirosas informações de médicos do Incor

BELO HORIZONTE. A família do presidente eleito Tancredo Neves ¿ que morreu em 1985 sem tomar posse no cargo ¿ divulgou ontem nota criticando a nova versão para a causa da morte do presidente divulgada em reportagem do ¿Fantástico¿ anteontem. Após reunir os 11 médicos que cuidaram de Tancredo no Incor, em São Paulo, o ¿Fantástico¿ afirmou que Tancredo morreu em conseqüência de uma grave inflamação nos pulmões, a Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica, iniciada depois da cirurgia a que foi submetido para a retirada de um tumor no intestino. O programa ouviu do patologista Elcio Mizziara a confissão de que, à época, forjou um laudo sobre a doença de Tancredo informando que ele tinha diverticulite em vez de um tumor benigno no intestino (leiomioma).

Na nota, a família disse desconhecer os médicos entrevistados e contestou as informações de que Tancredo sofreria de bacteremia, uma doença caracterizada por febre e tremores.

A família do presidente eleito também classificou de mentirosa a afirmação do farmacêutico George Washington Cunha de que Tancredo estava doente havia um ano e que tomava diariamente seis remédios contra as crises receitados por um balconista de São João del Rey.

No texto, assinado pelos filhos de Tancredo ¿ Inês Maria, Maria do Carmo e Tancredo Augusto Tolentino Neves ¿ a família diz ainda que as informações ¿beiram o ridículo¿. Também afirma lamentar as informações do infectologista David Uip, do Incor. Na reportagem do ¿Fantástico¿, Uip afirmara que o presidente eleito chegou ao Hospital de Base, em Brasília, onde recebeu o primeiro atendimento, com poucas chances de recuperação. ¿Essas declarações são o oposto das afirmações otimistas que ouvimos da equipe médica dia a dia durante todo aquele calvário¿, diz o texto.

Na nota, a família destaca ainda considerar importante que todos sabiam ¿que dois dos médicos ouvidos pela reportagem foram processados pelo Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal, pelos procedimentos adotados no caso¿. Os médicos são o infectologista Pinheiro da Rocha e Elcio Mizziara. Segundo o conselho, eles foram repreendidos internamente pelo conteúdo dos boletins divulgados na época.

A nota termina dizendo que ¿20 anos depois, os médicos ainda continuam faltando com um elemento básico de sua profissão: o respeito ao paciente¿.

Ouvidos pelo ¿Jornal Nacional¿, os médicos do Incor reafirmaram ontem ter documentos e fotos que comprovam que eles cuidaram de Tancredo. Uip explicou que o avanço das pesquisa científicas permite hoje supor que o presidente eleito sofria de bacteremia. E Washington atribuiu a pessoas próximas a Tancredo a informação que ele se automedicava.