Título: Tucanos na TV
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 20/04/2005, Panorama Político, p. 2

Se petistas e aliados mal dissimulam a preocupação em fechar alianças para a sucessão presidencial, o problema dos tucanos é selecionar e consolidar, até o fim do ano, o candidato que será anti-Lula. Nesta linha, o programa e as inserções televisivas a que o PSDB terá direito em maio serão dedicados a jogar luz sobre os cinco potenciais candidatos ¿ Fernando Henrique, Geraldo Alckmin, Aécio Neves, José Serra e Tasso Jereissati.

Toda a narrativa terá o objetivo de mostrá-los como bons gestores, buscando por aí a distinção em relação ao governo Lula. Foco nos cinco mas deixando alguns segundos para outros administradores tucanos, como os governadores Marconi Perillo (GO) e Lúcio Alcântara (CE).

Ainda assim, Aécio diz que está mantida a decisão de não apresentarem candidato antes do fim do ano ou do início de 2006, evitando fuzilarias precoces e ganhando tempo para analisar melhor as vantagens e as possibilidades de cada um.

¿ Continuamos achando, porém, que o presidente Lula não é mais um candidato imbatível, embora não se deva subestimar sua força. Mas com problemas na área política e na gestão, o governo hoje tem como âncora apenas a economia ¿ diz Aécio.

Tal diagnóstico certamente ganhará alento com a divulgação da nova pesquisa CNT/Sensus, que apontou uma queda de seis pontos percentuais nos índices de Lula, ainda que se mantenham altos e que a aprovação ao governo tenha oscilado dentro da margem de erro.

O presidente, disse Aécio anteontem no programa ¿Roda Viva¿, da TV Cultura, não poderá se apresentar em 2006 como o Lula de 2002, como portador da esperança ou mensageiro ideológico. Na reeleição, a disputa será de resultados, e é para isso que o PSDB se prepara.

Mas a personalidade do candidato, seu carisma, seu poder de comunicação e a empatia com o eleitorado também contam, sobretudo em eleições que vêm sendo cada vez mais dirigidas pelo marketing. Aí começam os problemas do PSDB. Suas opções são poucas e sujeitas a injunções da política regional, exceto Fernando Henrique, que só concorrerá numa situação altamente adversa para Lula. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que já esteve perto de assumir sua postulação, voltou a se cercar de cautelas. Para alguns tucanos, um erro. Mesmo sem se apresentar como candidato, deveria estar cuidando de nacionalizar seu nome e superar sua timidez. Aécio é um nome mais nacional e popular e vem fazendo uma gestão inovadora e com bom índice de aceitação em Minas. Embora não descarte a hipótese de concorrer, põe sempre a ressalva de que gostaria de governar Minas por mais quatro anos para concluir as mudanças estruturais que vem conduzindo. Não tem a obsessão, repete sempre lembrando a máxima do avô, de que a Presidência deve ser meta, é destino.

O senador Tasso é incluído na lista mas ele mesmo acha que por delicadeza. Já disse a amigos que numa situação altamente favorável ao PSDB, não se lembrariam dele.

Nas últimas semanas firmou-se entre os petistas a convicção de que o candidato será Serra. À informação de que José Dirceu faz até apostas neste sentido, o prefeito brinca:

¿ Pura paranóia deles!

Mas conversando muito eles estão. Anteontem Serra foi buscar Aécio depois do programa televisivo, que terminou à meia-noite, para um jantar que entrou pela madrugada. Amanhã, Alckmin, Tasso, Fernando Henrique e outros tucanos vão prestigiar duas festas de Aécio em Minas. Em Ouro Preto, a tradicional celebração do Dia da Inconfidência, que terá Mario Soares como orador oficial.

Em São João Del Rey haverá depois uma homenagem com múltiplos eventos a Tancredo Neves, cuja morte estará completando 20 anos. Este será um ato mais pluralista, evocando também o fim da ditadura e a restauração democrática. Lá estarão ainda Sarney e outros atores da transição, além dos presidentes da Câmara e do Senado. O presidente Lula não poderá ir mas o ministro Antonio Palocci será um dos agraciados por Aécio com a Medalha da Inconfidência.Guardião dos dogmas da Igreja, com sua eleição Joseph Ratzinger derrubou pelo menos um deles: o de que quem entra Papa no conclave sai cardeal. Também isso é sinal dos tempos.

Olho no social

O presidente Lula tem hoje uma reunião com todos os ministros da área social, da qual participam ainda Dirceu e Gushiken. Lula sabe: daqui para a frente, os programas sociais serão vidraça brilhante para a oposição. Fiscalização e cumprimento de condicionalidades são questões que vão pegar.

Na semana que vem, o Ministério do Desenvolvimento Social de Patrus Ananias começa a mandar cartas para as 5.533 prefeituras cadastradas no Bolsa Família, lembrando que os prefeitos têm até o dia 30 de junho para apresentar seus relatórios de avaliação: número de famílias atendidas, evolução da freqüência escolar e dos indicadores de saúde das crianças como peso, vacinação e situação nutricional.

O drama do governo é este: depende dos prefeitos para evitar descaminhos.

LULA é que iria pedir perdão aos índios ontem pelo que já passaram na mão dos brancos. Foi atropelado pelo ministro Márcio Thomaz Bastos, que discursou antes.

SEVERINO disse ontem a religiosos e pacifistas que lhe pediram urgência para a regulamentação do referendo sobre o desarmamento: ¿Pressionem o governo, ele é que promove a obstrução com suas MPs¿. Estava exultante com a escolha do novo Papa conservador, que, como ele, tem certas alergias. A gays, por exemplo.