Título: CPT: 2004 teve o maior número de invasões, mas total de mortes caiu
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 20/04/2005, O País, p. 4

BRASÍLIA. Relatório divulgado ontem pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) mostra que 2004 foi o ano que registrou o maior número de conflitos agrários desde que a entidade passou a contar esses casos, há duas décadas. Foram registrados 1.801 conflitos que envolvem disputas por terra, invasões, brigas judiciais, problemas trabalhistas e flagrantes de trabalho escravo, entre outras ocorrências. Apesar dos números, a CPT evitou fazer críticas duras ao governo. O presidente da CPT, Dom Tomás Balduíno, chegou a defender a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É a primeira entidade do movimento social que apóia novo mandato para Lula.

¿ Apóio a reeleição do Lula, ainda que saibamos o que esperar de dois mandatos dele. Apóio Lula porque a elite não se conformou de perder o trono e quer voltar. Lula não está resolvendo os problemas a contento, mas será um retrocesso total se o governo voltar para as elites ¿ disse dom Tomás Balduíno.

Pelos números da CPT, houve redução de 46% no número de mortes no campo em 2004 em relação a 2003. No ano passado, foram registradas 39 mortes, contra 73 em 2003. Segundo dados da Ouvidoria Agrária Nacional, em 2004 houve 16 mortes.

Em 2004, 496 invasões de terra, segundo a CPT

Os dados da CPT mostram que, em 2004, ocorreram 496 invasões de terra. O número supera a contabilidade da Ouvidoria Agrária, que fechou ano passado com 327 ocupações.

Na apresentação do relatório, na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a CPT levou a Brasília 16 pessoas ameaçadas de morte por conflito agrário. São religiosos, padres, dirigentes de sindicatos, agentes da CPT e agricultores. Muitos contam com proteção policial. No ano passado, foram registradas ameaças de morte a 284 pessoas.

As críticas mais duras de Dom Tomás foram destinadas aos grandes produtores rurais, setor classificado por ele de "maldito agronegócio", e ao Poder Judiciário. Perguntado sobre a homologação da reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, o presidente da CPT elogiou o governo:

¿ Nota dez para o ministro da Justiça. É sinal de que nem tudo está perdido.

Ele responsabilizou a equipe econômica pela lentidão da reforma agrária, mas evitou críticas ao ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, e ao presidente.

¿ Não há negativa do governo para fazer a reforma agrária, que está indo muito devagar. A questão é que a reforma agrária não é prioridade. Prioridade para a equipe econômica é o agronegócio. É um apoio ao modelo neoliberal ¿ disse.

A CPT não é a primeira entidade, porém, a preservar Lula. Na semana passada, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) decidiu adiar a Marcha dos Excluídos, que foi transferida de abril para maio. O "abril vermelho" anunciado pelo movimento perdeu força. Nesse mês, em 2004, o governo registrou 109 invasões. Até agora, o número de ocupações não chega a vinte.

MST vem reduzindo número de ocupações este ano

O MST vem reduzindo o número de ocupações neste início de ano. Relatório da Ouvidoria Agrária divulgado ontem mostra que, de janeiro a março, ocorreram 41 invasões, contra 56 no mesmo período em 2004.

Durante o anúncio do relatório, Dom Tomás rebateu declarações do vice-presidente José Alencar, que teria dito não existir trabalho escravo no Brasil.

¿ Isso não é verdade.