Título: Guerra dos remédios
Autor: Fabiana Ribeiro
Fonte: O Globo, 20/04/2005, Economia, p. 17

Vinte dias após o reajuste de remédios de até 7,39% fixado pelo governo federal, os consumidores encontram nas farmácias medicamentos com preços até 30% abaixo dos valores estabelecidos pela nova tabela. A boa notícia vem, no entanto, com um porém: há diferença de preços entre as lojas, sendo preciso bater perna para encontrar as melhores ofertas. Segundo economistas, ainda assim o consumidor é o maior beneficiado com a briga travada entre as grandes redes de drogarias.

¿ O Brasil é o país que tem o maior número de farmácias por metro quadrado. Por isso, a concorrência, principalmente em tempos de reajuste, é natural. Quem ganha é o cliente: ao perceber os descontos torna-se mais fiel à marca ¿ disse o economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Luiz Carlos Ewald, frisando que o consumidor precisa fazer pesquisa de preços. ¿ A diferença de preços entre uma farmácia e sua vizinha pode chegar a 50%.

O medo de queda nas vendas fez com que as farmácias ampliassem as promoções. Levantamento do GLOBO em oito drogarias, com 15 medicamentos, constatou os descontos. A nova tabela prevê, por exemplo, que o anticoncepcional Diane 35 custe até R$ 16,75. Mas, na RIC, de Laranjeiras, o medicamento sai por R$ 11,79 ¿ valor abaixo até da tabela anterior (R$ 15,80) e 29,61% menor que a nova referência do setor.

A história se repete com o Cataflam (50mg), um dos antiinflamatórios mais vendidos do país. As farmácias poderiam cobrar até R$ 17,97 pelo produto, mas a Pacheco do Largo do Machado vende a caixa com 20 comprimidos por R$ 15,24 ¿ desconto de 15,19%. Já o antibiótico Amoxil pode ser encontrado na Pague Menos, de Copacabana, por R$ 27,45, em vez dos R$ 35,14 da nova tabela.

¿ Nossos produtos estão, em média, 20% abaixo do limite do reajuste. Temos o poder de barganha de uma rede de 270 unidades. E, em muitos casos, abaixo da tabela anterior ¿ afirmou ontem Carlos Alberto Barbosa, gerente regional da Pague Menos no Rio.

A rede Drogasmil diz que, na negociação com as indústrias, a empresa consegue preços em média 20% inferiores aos da nova tabela. Dos 12 mil medicamentos, 1.400 estão hoje com desconto, contra os 600 produtos que normalmente têm redução de preço.

¿ A empresa faz campanhas como a que ficará nas lojas de 22 de abril a 10 de maio com descontos para remédios do coração. Mais tarde serão os medicamentos para hipertensos ¿ diz Ricardo Scaroni, diretor da Drogasmil.

`Grandes redes destroem lojas independentes¿

A aposentada Astelina Siqueira segue as regras do mercado. Na hora de cuidar da hipertensão, não pensa duas vezes: anda pela cidade. Antes de a Sendas ter uma drogaria na loja de Botafogo, ia até a filial do Largo do Machado para checar os preços dos medicamentos. É que a empresa oferece para idosos 20% de descontos em remédios com tarja, além de 10% para os demais clientes.

¿ Comprar meus remédios numa farmácia só? Não mesmo. Pesquiso muito: os remédios pesam no orçamento. Esse reajuste não estava nos meus planos ¿ diz a aposentada, que gasta por mês cerca de cem reais com remédios.

Ainda que o consumidor seja o maior beneficiado com a guerra das farmácias, Pedro Zidói, presidente da ABCFarma, que produz os cadernos de preços para 35 mil farmácias, a concorrência de hoje é destrutiva:

¿ Ao comprar em grandes quantidades, as grandes redes negociam com a indústria. Resultado: baixam os preços. Só que essa concorrência é um abuso e destrói as lojas independentes. O governo precisa intervir.

Ewald, da FGV, lembra que apesar dos preços mais em conta das redes, as pequenas drogarias estão mais abertas a negociar com o cliente:

¿ Já levei uma listinha a várias farmácias. E em vez de pagar R$ 380, paguei R$ 325.