Título: Berzoini quer rever meta de inflação
Autor: Geralda Doca
Fonte: O Globo, 20/04/2005, Economia, p. 18

BRASÍLIA. O número de trabalhadores com carteira assinada continua subindo, embora em ritmo menor do que o registrado em 2004. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, o mercado formal apresentou em março um saldo positivo de 102.965 vagas, contra os 73.285 postos de fevereiro. O resultado de março é o segundo melhor para o mês em toda a série histórica, iniciada em 1992, só perdendo para março do ano passado, quando foram abertas 108.212 vagas.

No primeiro trimestre deste ano foram criados 292.222 empregos formais, também o segundo melhor resultado para o período da série, mas uma queda de 15,8% em relação aos 347.392 postos criados entre janeiro e março de 2004.

O ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, disse que, apesar da redução, os números são positivos e indicam que o mercado formal de trabalho continuará favorável até o fim deste semestre. Segundo ele, as exportações continuam surpreendendo, sem sentir os efeitos da valorização do câmbio, permitindo aos empresários manter os investimentos e as contratações.

¿ Os resultados do mercado formal de trabalho são bastante positivos e só perdem para 2004, que teve um crescimento excepcional. Este ano, está havendo um processo de crescimento vigoroso, mas não nos mesmos patamares ¿ disse o ministro, que arriscou uma meta de 1,2 milhão de empregos neste ano.

Em 2004, quando a economia cresceu 5,2%, foram criados 1,5 milhão de empregos formais. Para Berzoini, agora está havendo uma acomodação na oferta de vagas devido à redução no ritmo de expansão da atividade econômica.

Segundo o Caged, o setor de serviços foi o que mais contratou em março, com 54.136 novas vagas, puxado pelo ramo do ensino, que contratou 17.331 trabalhadores. Em segundo lugar está a indústria de transformação, com a abertura de 17.959 postos de trabalho, liderada pelo setor de borracha, fumo e couro, com 9.631 vagas. Em seguida, vem o comércio, que abriu 13.962 postos.

No setor público foram abertos 6.767 postos e na construção civil, 6.252. A Região Sudeste teve o melhor desempenho, com abertura de 81.356 vagas, seguida por Sul e Centro-Oeste. No Nordeste, devido à entressafra da cana-de-açúcar, foram fechadas 20.392 vagas.

Do total de vagas criadas em março, as nove principais regiões metropolitanas responderam por 38.810. O melhor desempenho foi da Grande São Paulo, com 20.145 postos. Em seguida, estão Belo Horizonte, com 4.030, Salvador, com 3.358, e Rio, com 3.007. BRASÍLIA. O ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, criticou ontem a rigidez da meta de inflação perseguida pelo Banco Central (BC) e defendeu a sua revisão na reunião de junho do Conselho Monetário Nacional (CMN), que discutirá as metas de 2007 e 2008 mas tem poder de alterar os alvos já fixados. Ele disse que a política monetária precisa ser discutida no governo, apesar de toda equipe econômica tender ¿a ser conservadora para não passar a idéia de que está afrouxando¿. E defendeu a adoção de metas de crescimento e de estabilidade da dívida pública para o BC.

¿ Não adianta aumentar os juros porque isso vai atingir só um terço ou um quarto da inflação e tem custo muito elevado para o país, porque impacta a dívida pública e prejudica investimentos ¿ afirmou, ao divulgar os dados do mercado de trabalho de março.

Este ano, apesar da meta original de 4,5%, o BC ajustou o objetivo central de inflação para 5,1%, tendo como parâmetro o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em 2006, a meta é de 4,5%, mas há quem defenda alterações ¿ no alvo ou na metodologia ¿ para a política de juros não ficar engessada e o crescimento, prejudicado. No governo, estão entre os defensores de mudanças Berzoini e o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan.

Berzoini disse que há espaço no governo para discutir a política monetária e que isso seria saudável na gestão Lula. Além de uma meta maior para a inflação, Berzoini disse ser favorável a uma metodologia diferente para orientar o Comitê de Política Monetária (Copom) ¿ como a adoção do núcleo de inflação focado nos preços livres como parâmetro da meta. Isso porque, argumenta, os juros não têm efeito sobre a oscilação de commodities e do petróleo no mercado externo, que vêm pressionando a inflação.

¿ Não adianta ficar com a ilusão sobre a inflação. É importante combatê-la, mas temos que reconhecer a realidade e ver que os preços livres estão acomodados.

O ministro disse esperar que a Taxa Selic seja mantida hoje, pelo BC, em 19,25% ao mês, indicando o encerramento do ciclo de alta iniciado em setembro. (Geralda Doca)