Título: Economistas já projetam expansão inferior a 3%
Autor: Patricia Eloy e Vagner Ricardo
Fonte: O Globo, 21/04/2005, Economia, p. 19

Juros altos, queda da produção industrial e recuo nas vendas no varejo podem fazer país crescer apenas 2,5%

O conservadorismo demonstrado pelo Banco Central (BC) na condução da política monetária já está fazendo com que economistas descartem para 2005 uma expansão econômica do país superior a 3%, acompanhada por uma forte queda na produção industrial e nas vendas no varejo. Há menos de quatro meses, porém, as estimativas eram de um crescimento em torno de 4% para este ano.

Para Sérgio Werlang, ex-diretor de Política Econômica do BC e atual diretor-executivo do Banco Itaú, o país não tem condições de crescer mais que 2,5% em 2005. Ele ressalta que boa parte do aperto monetário feito nos meses anteriores ainda não surtiu efeito sobre a economia, que já deixou para trás o vigor demonstrado no ano passado.

Para ex-diretor do BC, alta foi um `erro técnico¿

¿ Com um juro nos níveis atuais e produção industrial em queda, não dá para esperar um grande crescimento para este ano. E as vendas de bens duráveis só não despencam porque abriram a torneira do crédito, que tem sustentado o apetite dos consumidores. Esse quadro gera um risco enorme de uma intensa desaceleração da economia nos próximos meses ¿ diz Werlang, que no início do ano projetava uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) da ordem de 3,5%.

O economista e professor do Ibmec Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor de Política Monetária do BC, estima um crescimento econômico da ordem de 3% para 2005. Para ele, o Comitê de Política Monetária (Copom) ¿errou na mão¿.

¿ Foi um erro técnico. A dose foi muito além do necessário. Na última ata, o BC já tinha sugerido que estava olhando a trajetória da inflação nos 12 meses, que tem se mantido estável em 5,5% ao ano. Ora, se há estabilidade, por que subir mais ainda os juros? ¿ pergunta Freitas. ¿ O que se pode supor é que, com a nova alta, o BC está procurando reduzir o impacto da inflação deste ano sobre as projeções do ano que vem. Mas isso se dá com um forte custo social e também econômico, já que 57% da dívida do governo são indexados à taxa Selic.

O economista Alexandre Póvoa, diretor da Modal Asset Management, faz as contas:

¿ Esse 0,25 ponto a mais vai custar R$2,5 bilhões ao ano para o governo. Esse é o peso da nova alta dos juros sobre a dívida pública de quase R$900 bilhões. O conservadorismo por trás da nova alta sugere que pode levar mais tempo para que os juros comecem a cair ¿ avalia Póvoa, que espera que os cortes de juros ocorram no último trimestre de 2005.

Já para Freitas, do Ibmec, a queda da Selic pode até ser adiada para 2006. Joaquim Elói Cirne de Toledo, professor da USP, faz coro com os demais economistas. Para ele, o PIB não terá uma expansão superior a 3%, tendo em vista a escalada dos juros. Os juros reais, lembrou, saíram de 9,1%, no primeiro trimestre, para 10,6%, no segundo, e seguiram em alta consistente até chegar aos atuais 13,3%, derrubando gradualmente a taxa de investimento e, por extensão, o ritmo futuro da atividade econômica:

¿ Se o BC fosse menos conservador, talvez o ciclo de alta da Selic não fosse sequer necessário, porque a economia iria mesmo desacelerar.

O diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, Júlio Gomes de Almeida, afirmou que a nova alta ¿é uma punição indevida aos setores produtivas e uma premiação indevida ao mercado financeiro¿.

¿ No dia em que se fizer um balanço do ciclo de alta de juros iniciado pelo BC em setembro vão constatar que ela foi muito nociva para o Brasil e pouca efetiva em reduzir a inflação ¿ disse Almeida, ao prever uma forte desaceleração econômica.