Título: JUROS E EMISSÕES FAZEM DÍVIDA FEDERAL SUBIR R$ 28,2 BI E CHEGAR A R$873 BI
Autor: Martha Beck
Fonte: O Globo, 21/04/2005, Economia, p. 19

Parcela corrigida pelo câmbio caiu a 4,94% em março, a menor da História

BRASÍLIA. Novas emissões de títulos do governo federal e juros provocaram aumento de R$28,22 bilhões na dívida mobiliária federal interna em março. O estoque subiu 3,3%, passando de R$845,39 bilhões em fevereiro para R$873,61 bilhões no mês passado. Segundo relatório divulgado ontem pelo Tesouro Nacional, as emissões de março ficaram R$14,5 bilhões acima dos resgates.

Apesar da alta, o perfil da dívida melhorou graças à redução da parcela corrigida pelo câmbio. Esses papéis passaram de 6,02% em fevereiro para 4,94% em março ¿ o menor percentual da História.

¿ A exposição cambial sofreu redução expressiva e deixou de ser um assunto relevante ¿ disse o coordenador-adjunto da dívida pública, Ronnie Tavares.

Títulos prefixados aumentam participação para 21,5%

A queda da dívida cambial foi o resultado das chamadas operações de swap reverso do Banco Central (BC). Nelas, o BC oferece aos investidores contratos com remuneração atrelada à Taxa Selic em troca da variação do câmbio de determinado período. Com isso, a exposição cambial caiu R$7,8 bilhões em março.

Já a parcela da dívida composta por títulos prefixados aumentou. Devido a uma emissão líquida de R$12,7 bilhões no mês, a parcela subiu de 20,4% em fevereiro para 21,5% mês passado. Segundo o Plano Anual de Financiamento (PAF) do Tesouro Nacional, os prefixados devem fechar 2005 entre 20% e 30% da dívida pública.

Os papéis prefixados são mais vantajosos para o governo porque sua remuneração é acertada na hora da venda, o que dá maior previsibilidade sobre os resgates. O aumento desses títulos acabou levando à redução da participação relativa dos outros tipos de papel na dívida.

Os corrigidos por índices de preços, por exemplo, passaram de 14,30% para 13,99%. Já os corrigidos pela Selic, passaram de 56,60% para 56,98%, graças aos contratos de swap reverso.

O governo ainda não conseguiu melhorar de forma significativa o prazo médio da dívida. Apesar de as emissões terem prazos mais longos (de 25,5 meses em fevereiro para 27,2 meses em março), isso ainda não se refletiu no prazo médio, que passou de 28,1 meses para 27,8 meses no período.

¿ O prazo das emissões vem crescendo gradativamente, mas o prazo médio do estoque não vem mostrando isso. Os reflexos devem começar a aparecer no médio prazo. Nossa estratégia continua sendo de alongar a dívida ¿ disse Tavares.

Já a parcela do endividamento com vencimento de curto prazo, ou seja, em até 12 meses, recuou, passando de 43,2% em fevereiro para 43% em março. Segundo Ronnie Tavares, essa redução também mostra a estratégia do governo para alongar a dívida.

Tesouro: não é o momento de captar no exterior

Apesar dos rumores de que o governo poderia fazer uma nova captação de recursos junto a investidores internacionais, o assessor especial do Tesouro Nacional para a dívida externa, Ricardo Moura, disse ontem que a situação atual não é favorável para essa operação.

Segundo ele, as especulações sobre um aumento das taxas de juros americanas e a atual situação do mercado de crédito nos Estados Unidos são ¿fantasmas que rondam o mercado internacional neste momento¿.

¿ A situação do mercado não é tão boa ¿ disse Moura.

Mesmo assim, o Brasil já fez três captações em 2005, no total de US$2,898 bilhões. Além disso, no fim de 2004, foi captado antecipadamente US$1,5 bilhão, para ser utilizado no pagamento da dívida externa este ano.