Título: PROTESTO NAS RUAS E ATÉ NA PREFEITURA
Autor: Letícia Lins
Fonte: O Globo, 21/04/2005, Economia, p. 21

Três mil pessoas vão às ruas de Recife e prefeito carrega vela contra a Celpe

RECIFE. Uma semana após uma tumultuada reunião entre a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e representantes da sociedade ¿ marcada por bate-boca, vaias e até pela tomada do microfone dos diretores da agência ¿ o aumento médio da tarifa de energia de 34,11% em Pernambuco, previsto para o dia 29, voltou a mobilizar os consumidores: cerca de três mil pessoas foram ontem às ruas do centro de Recife para pedir que a Companhia Energética de Pernambuco (Celpe), que monopoliza o fornecimento de energia no estado, reduza o reajuste.

A manifestação uniu todos os partidos, empresários e empregados, CUT e Força Sindical. Repartições como a prefeitura, o Tribunal de Justiça, a Assembléia Legislativa e a Câmara Municipal, assim como o setor administrativo de dezenas de indústrias, aderiram a um apagão voluntário de 15 minutos.

Os manifestantes distribuíram tarjas pretas, velas e candeeiros e ocuparam as principais ruas do centro protestando contra o reajuste já autorizado pela Aneel ¿ que ainda foi menor que os 56,98% pretendidos pela Celpe.

O carpinteiro José Carlos Lima de Jesus exibia um macaco de brinquedo, conclamando a população a fazer ligações clandestinas. É que em Recife ¿macaco¿ é a gíria para o roubo de energia, como o ¿gato¿ no Rio de Janeiro.

PT, PSDB, PFL, PTB, PSB, PMDB, PMN e PDT participaram da manifestação. O prefeito de Recife, João Paulo Lima e Silva (PT), não foi ao protesto, mas autorizou o desligamento da luz nos prédios da prefeitura por 15 minutos.

¿ Se esse aumento vigorar teremos uma despesa adicional de R$12,7 milhões ao ano ¿ reclamou o prefeito, que circulava pelos gabinetes com uma lanterna.

Os opositores do aumento criticam a Celpe por comprar energia térmica três vezes mais cara da Termopernambuco, em vez de comprar da hidrelétrica Chesf. A Celpe alega que não pode romper o contrato, mas políticos locais denunciam que ela e a Termopernambuco pertencem ao mesmo grupo, o Neoenergia. Ontem o presidente da Comissão Parlamentar Especial Anti-Aumento, deputado Sérgio Leite (PT), informou que na terça-feira haverá uma audiência pública sobre o aumento na Câmara.