Título: LULA DIZ QUE LÍDERES SINDICAIS PRECISAM MUDAR
Autor: Cristiane Jungblut e Luiza Damé
Fonte: O Globo, 21/04/2005, Economia, p. 25

Presidente promete voltar às assembléias quando deixar o cargo

BRASÍLIA. Ao discursar na abertura do XVI encontro da Organização Regional Interamericana de Trabalhadores (CIOSL/ORIT), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva rebateu ontem críticas feitas à reforma sindical e disse que o sindicalismo hoje não pode se limitar a apresentar pauta de reivindicações por melhores salários. Segundo ele, é preciso assumir uma postura mais propositiva e conectada com o que acontece no país e no mundo. Lula disse ainda que a reforma sindical em debate no Congresso é o resultado ¿do que o ventre de empresários e sindicalistas conseguiu produzir¿.

¿ Se o papel do dirigente sindical é apenas fazer uma pauta de reivindicação uma vez por ano ou reclamar do governo três vezes por ano, não precisa de sindicato. Isso o povo faz em casa ¿ afirmou o presidente, acrescentando:

¿ O dirigente sindical que quiser fazer em 2005 o tipo de sindicalismo que eu fazia na década de 70 vai fazer equivocado. Porque hoje o dirigente sindical tem que ser mais criativo. No meu tempo era muito fácil ir na porta de fábrica e fazer um discurso contra o patrão. Até dizia em 1978 que o papel do sindicato não era propor, era de reivindicar, de contestar.

`Reforma trabalhista não tira direitos dos trabalhadores¿

O presidente defendeu a reforma sindical depois de ouvir críticas à proposta feitas pelo presidente da Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), Antonio Carlos Salim, que disse temer perda direitos dos trabalhadores.

¿ Que ninguém saia pelo mundo dizendo que o governo está tentando impor uma reforma. Se ela não é mais perfeita, é porque não somos perfeitos. O que não pode é um dirigente sindical continuar falando em liberdade e autonomia sindical e ficar defendendo a cópia fiel da Carta del Lavoro de Mussolini ¿ disse Lula.

Nesse momento, ele também defendeu a discussão sobre uma reforma trabalhista:

¿ Discutir a reforma trabalhista não é tirar direito dos trabalhadores, é adequar o mundo do trabalho hoje às novas condições.

Lula prometeu que, quando deixar a Presidência, voltará às assembléias de sindicatos:

¿ Não sou presidente. Estou presidente. Quando deixar a presidência, pode ficar certo, companheiro Luiz Marinho (presidente da CUT), de que me verá em muitas assembléias no Sindicato dos Metalúrgicos. Porque estou presidente, mas o que sou mesmo é um dirigente sindical. Estou decididamente destinado a viver no meio daqueles que são a minha razão de ser, que é a classe trabalhadora brasileira.